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domingo, 1 de abril de 2018

Janelas de Belém
"Belem é um ovo". Esse era o nome de uma comunidade no orkut. Lembram do orkut? Será que ainda existe o orkut? Diz-se que Belém é um ovo porque as pessoas conseguem "misteriosamente" se encontrar na pura casualidade, com certa freqüência, desprezando o extenso espaço geográfico da cidade. Inclusive, creio que pelo menos nove em cada dez belenenses já tiveram essa experiência "mística" e, quem ainda não teve, não se preocupe, logo ira chegar a sua vez.
Mas pensando bem, Belém, não há nada de sobrenatural nisso. Desculpe a franqueza, isso acontece, simplesmente, porque as pessoas freqüentam os mesmos (poucos) lugares, apesar de suas muitas janelas e de sua grandiosidade geográfica e tal.
Sim, Belém tem muitas janelas, umas que dão para um rio na rua e outras que dão para a rua num rio, dependendo da estação climática ou sociocultural de quem a vê.
Eu amo a minha cidade com todo o meu coração e minha alma, mas, essa morena que tanto quero bem, tem dado outras percepções não tão belas assim.
Parece que foi ontem, eu saía de casa, pegava um ônibus e em 30 minutos (no máximo), estava na fila do cine Palácio para assistir alguma estreia e não importava o tamanho da fila, podia virar o quarteirão, fizesse chuva ou sol, cinema era a maior diversão.
Não faz muito tempo, brincávamos de pira e tomávamos banho de chuva na rua. Hoje, a cidade inchou, contudo, paradoxalmente (adoro essa palavra!), a sensação é a de estarmos dentro de uma garrafa. Os anos se passaram, crescemos, mas, a cidade toda ficou confinada no interior de uma garrafa, à deriva, tal qual uma mensagens de marinheiros lançadas ao mar, no nosso caso, no mar de incertezas.
É como se estivéssemos isolados do resto do Brasil. Aqui é outro Brasil, não acham ? Temos as nossas próprias encrencas, nossas birras, sotaques e tudo o mais. Enfim, temos as nossas crises e a deles - do outro Brasil - que se dane, pois como toda "novidade", vai demorar a chegar até aqui.
Ah Belém, Belém que te quero bem, diga-me com quem andas que te direi quem és. Não é assim o ditado? Então, pergunto imaginando as múltiplas respostas: Como sobreviver com segurança e dignidade em tuas entranhas ?
Das tuas janelas olho, observo, espreito, rezo. Olho da calçada, de cima dos edifícios, de dentro do carro. Olho do alto, bem do alto, a bordo de um avião ou do rio navegando num pô-pô-pô.
Em qualquer das situações, não consigo distinguir qual das tuas mazelas é a mais perversa conosco. Seria a violência ? Seria a "imobilidade" urbana? O descaso com teu patrimônio material e/ou imaterial ? Seria o teu crescimento desordenado ou a insanidade perpétua dos teus dirigentes?
Olhar com olhos de ver toda a tua exuberância e complexidade é um desafio alcançado, talvez, apenas, através da janela do nosso ilustre músico Alcyr Guimarães na estrofe:
"... Nem bela e nem formosa,
Cabocla desajeitada e pequenina,
Simples como a beleza de uma rosa,
Mundana que não pertence a ninguém...
Olê, olá Belém, olê, olá Belém..."
Eis o sentimento Belém. Essa jovem de 400 anos tem dessas coisas. Tem ou "já teve"?. Viver em Belém é como um casamento de amor e ódio, onde ambos não se separam jamais.
Pequena ou grande, caótica ou romântica, quente ou aconchegante, cheirosa ou suja, isolada ou integrada, Belém, provavelmente, continuara sendo "um ovo" por mais uns tantos anos, um ovo inserido numa garrafa, uma garrafa que navega, que navega a espera de alguém que a enxergue de uma janela.

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