Este é um espaço predominantemente pessoal e familiar, mas não se limita a esta categoria. Tem como proposta fundamental apresentar pensamentos, relatar experiências, propor discussões, criar novas amizades e consolidar as já existentes.

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terça-feira, 2 de outubro de 2012

Lições de uma dedicada professora

Entre os anos de 1981-84 estudei na Escola Estadual de primeiro Grau Nossa Senhora das Graças, situada a Rua Castelo Branco, esquina com a Mundurucus. Todos os dias na hora do recreio, seguíamos até o refeitório em fila indiana sob o comando da professora Carmem de Carvalho para encararmos macarrão com picadinho ou Nescau com biscoito, lógico que algumas vezes o cardápio variava para melhor ou para pior. Mas, as terças havia uma atividade extra; logo pela manhã, bem cedinho, a professora distribuía copinhos de plástico, destes de servir cafezinho, com nosso nome escrito ao fundo. Após o uso, os copinhos retornavam para o armário encaixados uns sobre os outros na embalagem. Qual a finalidade? Fazíamos higiene bucal com flúor. Lembro que a molecada precisava ficar com o líquido na boca durante um minuto, marcados de relógio pela professora. Após a sessão de bochechos, despejávamos o líquido numa pia, um aluno de cada vez; coitado do último aluno. Para meu desespero, alguns moleques, na brincadeira, por distração acabavam engolindo o líquido, eu morria de medo de engolir aquele troço. O mais interessante é que não havia gosto algum, nem cheiro, nem cor, parecia água. Contudo, a professora Carmem garantia que protegeria nossos dentes e que não deveríamos ingerir, apenas bochechar. Bom, se havia flúor, deveria estar tão diluído que seus benefícios ficaram em nível psicológico. De qualquer forma, a intenção era louvável. Esse breve relato serve apenas como reflexão do cenário econômico dificil que passava o país. Entretanto, apesar das dificuldades, os professores eram tratados com dignidade e possuiam o brilho nos olhos, cuja maior recompensa era o respeito e a admiração de seus alunos.

Outros Carnavais


Nunca fui um folião convicto, daqueles que seguem trio-elétricos e blocos carnavalescos pelas ruas. Prefiro assistir o movimento pelos noticiários da TV ou no máximo, levo a namorada até o bairro da cidade velha, e a certa distância e sem muito remelexo, apreciamos a animada bagunça dos brincantes. Talvez por isso o carnaval de 1999 tenha sido marcante. Estava na companhia dos meus amigos do curso de Biologia: Tuca, Marcelo Pinheiro, Rosyvaldo, Ronildon, Bruno, Jackson, Luís e Marcos Pedro. Fazíamos parte do chamado Clã Canalha, que apesar desta denominação pouco atrativa, não guardava, seguramente, qualquer relação com nosso caráter, nossa cordialidade e educação. Neste ano, pedalando em nossas "super-bikers", conhecemos as cidades de Soure, Salvaterra, Joanes e Cachoeira do Arari, incluindo o museu do Marajó e o ilustre Pe. Giovane Gallo. Algumas vezes nos hospedamos na casa de garotas marajoaras conhecidas ali mesmo na ocasião, noutras, nos abrigamos na barraca da santa, visitamos ruínas antigas, fizemos trilhas ecológicas, acampamos em praias, entre outras loucuras. Incontáveis foram as quedas em atoleiros e piçarras, banhos de igarapé e “surtos psicóticos”, cujos detalhes não caberiam nestas linhas. Interessante como uma minguada bolsa de iniciação científica fornecida pelo CNPq, permitia com que aqueles insanos realizassem tais epopeias. Não havia muito planejamento, nem dinheiro, nem tempo; apenas coragem e disposição para pedalar quilômetros, prontos a enfrentar quaisquer imprevistos, e não foram poucos. Era uma época sem internet, sem celular, sem notebooks, (pelo menos para nós), mas de alguma forma sobrenatural, conseguíamos organizar a agenda e sair pedalando por ai. Atualmente a maioria dos integrantes do Clã encontram-se gordos, carecas, com filhos, mulher, com responsabilidade profissional e o pior, sem bike. De fato a vida nos impôs outros carnavais.

Lembranças de uma infância

Um encontro casual possibilitou rememorar detalhes de uma época velada pelo tempo. Durante a releitura daqueles anos de 1983 e 1984, minha amiga Vania Roberta, atualmente senhora casada, mãe e empresária, gentilmente, cedeu-me esta foto, onde vemos uma menininha de dez anos. Esta florzinha fez parte de minha história escolar, compartilhando lições da nossa querida professora Carmem de Carvalho dur
ante a quarta série do ensino fundamental na Escola Estadual de Primeiro Grau Nossa Senhora das Graças.

Crianças são sempre crianças, mas naturalmente, algumas experiências típicas da infância podem ensaiar sentimentos adultos. Senhores pais e mães de crianças na faixa entre nove e dez anos de idade, não se enganem, não subestimem a capacidade que estes pequeninos possuem de sonha um grande amor. Infelizmente os anos passam e esquecemos quão prematuro surgem certos sentimentos, cuja magia das primeiras experiências encontra-se no platonismo das relações, na ingenuidade do desejo, na sutileza dos momentos e na efemeridade das lembranças. Sou grato a esta ilustre amiga que um dia fez bater mais forte o coração de um reles moleque de dez anos de idade. Nunca houve um único beijo, mas dali em diante foi quando tudo começou.