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domingo, 1 de abril de 2018

Dia desses eu, minha esposa e minha sogra dona Meire passeávamos pelas ruas do comercio de Belém, numa manhã ensolarada de julho, pouco antes da chegada da Thaís. Na altura da trav. Frutuoso Guimarães, convidei-as a conhecer um de nossos ícones do período colonial, a Igreja de Nossa Senhora das Mercês, marco do catolicismo em Belém.
Sentamos logo na primeira fileira de cadeiras bem próximo a entrada do templo. O ambiente silencioso, combinado a fraca luminosidade, quase exclusiva do sol que vazava suavemente em tons multicoloridos através dos vitrais, produzia um clima de mistério ante as seculares tradições católicas.
Quase não havia ninguém, alguns fiéis se prostravam de joelhos em oração ou em pé diante das imagens exibidas nas paredes laterais da Igreja. Chamava a atenção uma estátua de Jesus com cabelos segurando uma enorme cruz.
Por algum tempo permanecemos calados e apenas nossos olhos percorriam os detalhes arquitetônicos de Landi em estilo tipicamente Barroco. Absorvido por aquele ambiente de quase três séculos, lembrei-me de uma lenda bastante conhecida entre os belenenses: A menina da vassoura.
A lenda fala de uma menina que ao tentar bater na mãe com uma vassoura, em plena sexta feira da paixão, virou estátua de madeira. Conta-se ainda que a estátua ficou em exposição por muitos anos na Igreja de Santo Alexandre, hoje, Museu de Arte Sacra.
Contei a elas sobre a referida lenda e refletimos sobre seu significado pedagógico no imaginário infantil. Daí, aproveitamos aquele clima místico, tão propício a meditação, e aprofundamos a reflexão sobre o valor das lendas, fábulas, historinhas e contos de fadas na criação dos filhos.
Dona Meire posicionou-se contrária a ideia de utilizar esse recurso, como elemento pedagógico, questionando qual contribuição real, a lenda do papai Noel, por exemplo, traria ao bom e adequado processo de preparação das crianças para a vida adulta?
Bem, nem preciso dizer que, entre um sussurro e outro, nossas vozes começaram a escapar, ecoando baixinho no ambiente, então, educadamente, nos retiramos da Igreja e por assim, finalizamos o acalorado debate.
Notadamente minha infância jamais se dissociou das historias e fábulas. Mas, diferentemente de meus pais, os meus queridos sogros dona Meire e seu João - segundo eles próprios - não utilizaram deste recurso, não houve fábulas, priorizaram os relatos bíblicos como ensinamento na formação do caráter e da moral cristã. Com muita dedicação e amor, transformaram três belas crianças em três adultos maravilhosos; inclusive, por conta disso, não resisti e casei com uma de suas filhas.
Bem, a recente chegada de minha primogênita trouxe de volta a lembrança daquele passeio agradabilíssimo e, principalmente, dos sussurros na Igreja das Mercês.
Vale apena contar histórias aos pequeninos ?
Quem responde é o grande psicólogo infantil Bruno Bettelheim no livro “A Psicanálise dos contos de Fadas”(2002), disponível na internet em arquivo formato pdf. Uma boa litura para este fim de férias escolares.

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