Este é um espaço predominantemente pessoal e familiar, mas não se limita a esta categoria. Tem como proposta fundamental apresentar pensamentos, relatar experiências, propor discussões, criar novas amizades e consolidar as já existentes.

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domingo, 29 de maio de 2011

Os quatro mitos da educação médica

      Minha experiência na educação médica tem dois aspectos, um do lado do aluno e outro mais recentemente do lado do professor. Como estudante foi bastante conturbada, sobretudo, devido a necessidade que eu tinha de conciliar uma rotina profissional, pois a época eu já era professor de Biologia no ensino médio e trabalhava à noite. 

Como agravante minha turma experimentou um período de intensa transformação no âmbito do projeto pedagógico do curso de medicina na UFPA.
     Estas mudanças foram realmente necessárias e certamente trariam importantes benefícios ao curso e a formação médica. Neste período, pudemos identificar alguns mitos no processo ensino e aprendizagem, também percebidos por outros estudantes em outras faculdades pelo Brasil, o que nos faz concluir que se trata de um fenômeno generalizado, presente em muitas outras faculdades medica do Brasil que igualmente a UFPA, estão experimentando mudanças em seus currículos. Neste sentido o professor  Júlio  Voltarelli, em publicação na revista médica, examina quatro destes interessantes mitos. Vejamos:
1) O mito da observação clínica completa:
   Na educação médica tradicional, a qualidade da consulta médica,confunde-se com o preenchimento de todas as etapas (e das anotações correspondentes) da história clínica e do exame físico, incluindo a revisão dos sintomas e dos sinais de todos os sistemas orgânicos. Assim, qualquer curso de Semiologia Médica tem por objetivo terminal, a obtenção desta “observação clínica completa”, a qual, acoplada à sua análise adequada, constituía meta do próprio curso médico. Entretanto, esta tarefa hercúlea demanda tanto tempo e esforço para ser realizada, na forma preconizada nos manuais, que ela é raramente realizada ou avaliada, seja no final do curso de Semiologia, seja no término do curso médico. Os textos mais modernos de Semiologia já desmistificam a “história clínica completa” discutindo a utilidade de um “exame físico periódico” para detectar e prevenir doenças em indivíduos assintomáticos.
      Pesquisas randomizadas têm demonstrado que a realização do exame clínico direcional é perfeitamente capaz de reduzir a morbidade e a mortalidade a partir de um número menor de procedimentos semiológicos. Entretanto, não há dúvida de que o estudante de medicina deve ser treinado a realizar todos os passos da observação clínica, através da repetição exaustiva da mesma, ao longo de todo seu aprendizado e não só do curso introdutório de Semiologia. Mas, ele também precisa ser esclarecido e treinado, desde o início, para o fato de que nenhuma das observações que realiza, será realmente “completa”, pois a extensão e profundidade da abordagem de cada sistema, dependerá de muitas variáveis e principalmente, da natureza do problema médico e da própria experiência clínica do examinador.
2) O mito da hierarquização do aprendizado:
    A pedagogia tradicional leva ao extremo a hierarquia das disciplinas na construção do currículo médico. O Básico antes do Clínico e este antes do Internato; a Morfologia antes da Fisiologia e esta antes da Farmacologia e da Patologia. A Semiologia antes da Clínica e da Terapêutica, a Técnica Cirúrgica antes da Clínica Cirúrgica e assim por diante.  A lógica, aparentemente irrefutável, desta hierarquia apregoa que o estudante necessita adquirir conhecimentos básicos como requisito prévio para, gradativamente aplicá-los na resolução dos problemas dos pacientes.  Contudo, estas prerrogativas estão em xeque com a introdução de uma nova abordagem denominada Problem Based Learning (PBL), ou seja, aprendizado baseado em problemas. Como se sabe, este método revolucionário de ensino médico, tem sido crescentemente adotado em todo o mundo, fundamentando todo o aprendizado desde o ciclo básico até o avançado na resolução de casos clínicos, motivando e mobilizando o acadêmico através da apresentação de problemas reais.
3) O mito da imaturidade do estudante:
   Supõe que o estudante nunca está capacitado para estudos mais avançados, necessitando sempre de um longo tempo de preparação básica. Entretanto, o sucesso do PBL aplicado desde o início do curso em várias escolas médicas, desmente a necessidade desta hierarquização de conhecimentos e, principalmente, a tese da “imaturidade” do estudante do ciclo básico. Neste sentido, o professor Dr. Júlio  Voltarelli questiona:  Qual é o milagre que se opera nos anos de Internato e, principalmente, durante a Residência Médica, em que o estudante assume a responsabilidade pela resolução de problemas clínicos e, por conseguinte, de seu próprio aprendizado, tornado-se, no final, um profissional responsável e competente? O mito da imaturidade do estudante é um dos mais destrutivos para a educação médica, devido suas variadas implicações, pois causa um certa dependência do professor, ou pior, do especialista. O aprendizado se limita  ao interior do hospital universitário, muitas vezes apenas com aulas expositivas ou demonstrativas. Por outro lado, implica também que o interno está “maduro demais” para ser avaliado, concentrando a carga avaliativa de provas e exames ao perído de formação anterior ao internato, ou seja, nos quatro primeiros anos do curso.
4) O mito da interdependência das disciplinas:
   A integração do ensino, tanto em nível vertical (básico-clínico) como horizontal (básico-básico ou clínico-clínico) é uma das metas do currículo médico mais difíceis de serem alcançadas. Isso ocorre devido a este mito. Particularmente, pude perceber que a reforma curricular que experimentamos na UFPA durante os anos de graduação (2002 a 2007) objetivou a integração do ensino pela criação de blocos didáticos de disciplinas, denominados de PCIs (Programa Curricular Integrado). Estes blocos eram baseados em sistemas orgânicos, tanto no Ciclo Básico como no Clínico. Neste, vários blocos de integração, alguns se instalaram com sucesso, unindo disciplinas clínicas e cirúrgicas (Cardiovascular, Renal, Aparelho Digestivo, Respiratório), outros nem tanto. Na prática, não se assegurou a integração de conhecimentos pela simples concomitância de aulas sobre assuntos relacionados. Apesar deste modelo ter representado um avanço em relação ao ensino tradicional baseado em disciplinas estanques, ele não foi suficiente para produzir uma verdadeira interdisciplinaridade curricular. Já o modelo PBL está em franca execução em muitas instituições médicas, mas ainda é prematuro  avaliar seus reais benefícios e suas vantagens em relação aos modelos pedagógico-curriculares anteriores.

Breve ensaio sobre o ensino superior no Brasil

Moro em frente a uma faculdade particular que funciona a noite e há algum tempo venho percebendo um crescimento no número de alunos a cada ano. A impressão cada vez mais forte é a de que a maioria destes universitários passa mais tempo fora da faculdade do que propriamente dentro de suas dependências. 
Guardadas as proporções, às vezes chego até a comparar com aquelas típicas aglomerações de jovens em frente a boates e bares usando trajes das mais variadas categorias. Esta população de estudantes ao contrario do que podemos imaginar, não pertence à classe abastadas, em sua maioria são de origem humildes e muitos chegam direto de seus empregos, ainda com fardas, trabalhadores que finalmente tiveram a chance de se matricular num curso superior. Obviamente que alguns aproveitam de fato essa chance.
Pois bem, segundo o dicionário Aurélio, ensinar provém do latim signare, que significa colocar dentro, gravar no espírito. Modernamente entende-se como um processo lento e gradual de transmissão e aquisição de conhecimento com sutis diferenças metodológicas entre os povos. Portanto, ensinar está na dependência direta dos mecanismos educacionais construídos segundo os preceitos tradicionais de cada cultura, onde cada qual possui sua própria história de desenvolvimento.
Não podemos julgar o passado pelos critérios do presente, mas podemos mudar o futuro a partir do conhecimento do passado com atitudes no presente. Neste sentido, o panorama atual da educação brasileira pode ser entendido a partir de uma breve análise de seu desenvolvimento histórico e consolidação culminando com a formação de nossa comunidade científica.
É evidente que o processo de formação de uma comunidade científica depende fundamentalmente de um espaço social favorável gerado por um sistema educacional consistente e bem organizado. Foi somente a partir do século XIX que tais condições surgiram em território brasileiro, com o funcionamento das primeiras universidades.
Notadamente a sociedade brasileira se desenvolveu a partir da combinação entre os centros urbanos dependentes das relações internacionais com as extensas áreas rurais de monocultura, ambas sob os auspícios da burocracia governamental democraticamente incipiente e frágil, que dificultava o acesso a educação e por conseguinte um meio efetivo de ascensão social. 
Os filhos de famílias humildes buscavam nas carreiras eclesiásticas uma maneira de superar as limitações do berço, enquanto os jovens abastados viam nas profissões liberais clássicas (medicina, direito e engenharia), canais de mobilização social que permitia o transito da vida rural para as luzes da cidade grande.
Contudo, atualmente com a abertura de mais faculdades particulares estimulado pelo governo, a oportunidade de dar prosseguimento aos estudos se ampliou consideravelmente, mas infelizmente apesar da ampliação do acesso a educação formal, sua qualidade mostra sinais de deterioração atingindo níveis absurdos de criticidade. Diante destas considerações deixo aqui uma pergunta: Qual o bem mais precioso que você possui?
Para muitos a resposta pode ser os amigos, para outros a inteligência e a esperteza. Existirá contudo, aqueles que diriam o status social e seus bens materiais, outros ainda valorizaram o carinho dos familiares, o aconchego do lar, mas qualquer que seja a resposta, não seremos capazes de gozar plenamente destas opções sem um mínimo de conhecimento teórico formal.
O tempo é uma entidade difícil de definir, entretanto uma coisa é certa, ele é capaz de consolidar amizades e diferenciar os seres humanos. Uns aproveita-o para aprender mais se despindo da ignorância e animosidade. Outros, no entanto, hão de desperdiçá-lo cultivando sentimentos e inclinações menores, mergulhando no oceano da vaidade e egoísmo. Nestes tempos de muitas oportunidades, o que estamos fazendo com nosso tempo? O que estarão fazendo futuramente estes milhares de universitários que nas noites de sexta-feira, trocam as salas de aulas pelos barzinhos? A banalização da educação pode conduzir o país a um cenário apocalíptico onde nem as mentes melhor preparadas serão capazes de se salvar. Onde vamos parar? O que os historiadores do futuro dirão a nosso respeito?

Óptica, uma aventura luminosa (parte 2)

         A Óptica clássica se desenvolveu inicialmente com o estudo dos fenômenos luminosos relacionados à formação de imagens em espelhos e lentes envolvendo basicamente a reflexão, refração e absorção de acordo com o conceito de raio luminoso, caracterizando a óptica geométrica. Posteriormente surgiram trabalhos relacionados ao caráter ondulatório da luz, a partir de considerações sobre a natureza física da luz, medições sobre sua velocidade, experiências demonstrando novos fenômenos como a interferência, difração, dupla-refração, dando origem à chamada óptica física.

      Como já foi dito anteriormente, o estudo dos fenômenos luminosos só assume um caráter eminentemente científico a partir do século XVIII com a correta demonstração da lei de refração da luz e neste mesmo período começam a surgir os primeiros instrumentos ópticos tais como os óculos, os telescópios, os microscópios e câmeras fotográficas, sendo atribuído ao francês  Joseph  Niépce o primeiro registro fotográfico da história feito em 1826.

     Atualmente com o desenvolvimento da física quântica e relativística as concepções sobre a natureza da luz e seus fenômenos luminosos ganharam mais detalhes, contudo os modelos conceituais de explicação que dispomos atualmente tenta conciliar a partir de uma teoria unificadora, as mesmas dúvidas que existiam na cabeça dos antigos gregos: é a luz uma onda ou uma partícula? De um lado a mecânica quântica desenhando o mundo subatômico ondulatório, de outro a teoria da relatividade arquitetando os fenômenos cósmicos e neste meio-termo está a luz, se comportando ora como partícula (fóton), ora como onda num mundo governado pelas leis das probabilidades.  A teoria unificadora das quatro forças primordiais do universo (força forte, força fraca, eletromagnética e gravitacional) ainda não existe satisfatoriamente, mas promete revolucionar nossa compreensão sobre o universo e mais uma vez sobre a natureza da luz.

sábado, 28 de maio de 2011

Óptica, uma aventura luminosa (parte 1)


A luz sempre foi objeto de interesse do homem desde que tomou consciência de que a noite era conseqüência da ausência da luz solar. Para os Egípcios antigos a luz era Maât a filha de Rá o deus sol, para os Hebreus a luz foi criada por Deus. Já os gregos a compreendiam como algo menos místico, contudo, ainda havia lugar para dúvidas cruciais tais como: a luz vem do objeto que vemos ou sai de nossos olhos em direção aos objetos?

O poeta Homero acreditava na teoria dos raios visuais, já os pitagóricos postulavam que eram os olhos que recebiam os raios luminosos. Platão conciliava dizendo que a visão era um fenômeno constituído por três jatos de partículas, um proveniente dos olhos, outro proveniente dos objetos e um terceiro jato originado das fontes luminosas. Porém, esse impasse só começou a ser realmente resolvido a partir do iraquiano Al Hasan durante a idade das trevas ocidental (idade média) ao postular que a fonte dos raios luminosos estava no sol ou nos objetos luminosos e a visão se deve tão somente a reflexão destes raios até aos olhos humanos.
Os gregos eram tão brilhantes que tinham consciência de que para entenderem a natureza da luz, precisavam além de considerar sua origem não divina e os mecanismos fisiológicos da visão humana, também compreender a natureza física na luz, sua velocidade, sua massa e todas as leis que governam sua relação com os objetos por ela iluminados, as propriedades ópticas das esferas de cristais, dos vidros (lentes) e das características refletoras das superfícies planas e curvas (espelhos).
Embora a luz fosse considerada pelos gregos como de natureza corpuscular, o preceptor de Alexandre o grande (Aristóteles), defendia a hipótese alternativa de que a luz seria algo naturalmente propagado pelo espaço, inerente ao meio, sendo o primeiro a teorizar sobre a natureza do arco-íris. Após Aristóteles, muitos outros filósofos passaram a refletir sobre este fenômeno atmosférico (arco-íris) o qual se tornou um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da óptica.
A questão da natureza da luz permaneceu em debate por alguns séculos onde, de um lado havia os pitagóricos-platonistas defendendo a luz como partícula, de outro lado os aristotélicos defensores da luz como manifestação do meio entre o objeto e os olhos. 
Esse conflito permaneceu em caráter filosófico até o século XVIII quando finalmente a discussão ganhou ares científicos com a colaboração dos estudos de Descartes, Fermat, Newton e Huygens entre outra mentes brilhantes.
Texto adaptado do livro Crônicas da Física (tomo II). Trata-se de um trabalho primoroso do professor e amigo  Dr. J.M.F. Bassalo.

sábado, 14 de maio de 2011

A maior série de divulgação científica de todos os tempos


Meu pai sempre que possível  preencheu as noites estreladas de minha infância com histórias sobre o universo, incluindo estrelas, planetas e galáxias. No ínicio da década de 80 a rede globo apresentou uma minisérie em que meu pai e eu passamos a acompanhar, assistindo juntos durantes as manhãs de domindo. Ainda que eu não tivesse a maturidade suficiente para compreender perfeitamente a minisérie, a companhia de meu pai tornava esses momentos divertidíssimos e absolutamente marcantes. Anos depois a revista Super Interessante da editora abril disponibilizou na íntegra toda a minisérie em DVD e, obviamente que eu não perdi a oportunidade de adquirir todos os capítulos,guardando-os como relíquias pois espantosamente seu conteúdo ainda permanece, em sua maioria, bastante atualizado. Com trilha sonora  de Vangelis, COSMOS do Cientista norte-americano Carl Sagan, maior divulgador da ciência de todos os tempos, foi certamente um programa que influenciou drasticamente a trajetória de minha vida. Vale a pena ver e sobretudo ouvir.

Há 10 anos

No dia 27 de outubro de 2000 eu e minha turma do curso de Ciências Biológicas da UFPA estávamos finalmente concretizando o último rito de passagem acadêmica: a cerimônia de colação de grau. Neste dia memorável, naturalmente que não éramos capazes de imaginar exatamente o que aconteceria a partir dali, pois ainda que houvesse muitos planos, muitos desejos, muitas aspirações, o interior de nossos corações era dominado pela indagação: o que o destino reservaria a cada um de nós? Com futuro encoberto pelo véu das probabilidades e incertezas, sorríamos diante de um auditório lotado de amigos, parentes e autoridades.
(Trecho adaptado de “Aos últimos combatentes”. Crônica que escrevi em homenagem aos amigos da Biologia, publicada no jornal Diário do Pará em 09 de junho de 2003. Em breve fará parte de um acoletânea ainda sem título)

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Dicas de como fotografar como um profissional (7)

Efeitos com o Obturador
      Como já vimos no item anterior, o EV corresponde a diversos diafragmas e obturadores que estão determinando a mesma quantidade de luz, mas o resultado final das imagens é que será diferente e está é a opção do fotógrafo nas diversas situações. Exemplo: para ISO 400 se você tiver f 1.4 com velocidade de 1/1000 segundos será a mesma exposição de f.16 com velocidade de 1/8 segundos. A diferença é que no segundo caso voc~e provavelmente vai precisar repousar a câmera sobre uma superfície plana, pois a essa velocidade é praticamente impossível tira uma foto sem tremer.
       A escolha da velocidade do obturador mais adequado depende de uma série de requisitos, como a diferença de distância das coisas, que altera a sensação de movimento, se muito rápido você congela o movimento, se muito lento você “borra” o movimento. Suponhamos uma situação em que precisamos fotografar um carro de corrida em alta velocidade
1a. Opção:
    Queremos que o carro fique congelado (apesar de sua alta velocidade) e que o fundo, onde estão as pessoas assistindo , também seja bem visível. Para este efeito (congelamento) temos que usar um tempo bastante rápido no obturador acompanhado de um furo pequeno para ganhar profundidade de campo, então teríamos: velocidade de 1/1000 segundos e f.8.0 Para maior certeza que estamos com o carro enquadrado, acompanhamos com a máquina sua passagem e fazemos a foto no local desejado.
2a. Opção:
    Queremos captar a velocidade do carro, mas não queremos alterar a visibilidade do fundo. Para isto, basta diminuirmos o tempo do obturador de modo que o carro "ande" durante a exposição ,que se muito longa, fará um "vulto" não mostrando perfeitamente o carro mas sim o seu movimento. Com a máquina lateral à pista poderemos captar com maior ênfase o deslocamento do carro; o que já é minimizado quando a exposição é diagonal. Não é aconselhável a posição frontal, que só permite captarmos como movimento, o aumento ou redução do tamanho do objeto.
     Efeitos com o diafragma
Antes precisamos falar  sobre a profundidade de campo (segue no próximo post).

Muitas câmeras, um só desejo

Adquiri minha primeira câmera fotográfica aos 22 anos, produto de um investimento proveniente de uma bolsa de estudo na modalidade de iniciação científica. Na época eu era um reles estudante do segundo ano de Biologia, mas com muitas idéias na cachola. A câmera era a popular Yashica mg-motor analógica básica, que utilizava filme fotográfico no formato 35mm (filme convencional comprado nas farmácias da esquina). Possuía um sistema de rebobinação automática do filme e presença de um auto-flash embutido. A lente era uma fixa de 35mm a qual eternizou bons e saudosos momentos.


Fotografar nesta época ainda não era atividade tão digamos assim "corriqueira" entre os amadores. Havia uma limitação crítica, pois no universo dos amadores, só era possível encontrar filmes de 16, 24 ou 32 poses, com ISO de 100, 200 ou 400. Portanto não podia haver desperdícios na hora de clicar, ou o clic saía adequado ou lá se perdia uma pose. Para se economizar, tudo tinha que ser bem planejado e quase nunca se registrava assuntos fora da temática habitual, o retrato com as tradicionais imagens posadas.
     Deste modo havia a apreocupação do aproveitamento máximo do filme fotográfico, no sentido de registrar pessoas queridas, amigos, parentes, geralmente em eventos sociais, passeios e ocasiões muito específicas. Em outras palavras, o cotidiano da vida como ela é, passava despercebido as lentes amadoras.
Além de termos que comprar os filmes, gastava-se com as revelações. Quem era dessa época lembra que durante o intervalo entre o ato de clicar até a revelação do filme, a ansiedade era de matar, restando apenas a imaginação de como poderiam estar aquelas fotos preciosase caras. Era comum ficar torcendo para “prestar” uma determinada pose ou um rolo de filmes trabalhosamente utilizado. Junto com a câmera, levávamos aquelas bobinas pretas com rótuos amarelos na parte externa, como se fosse ouro.
Antes de 1997 meus clics eram muito escassos e quase inexistentes, pois eram realizados em câmeras emprestadas de tios e tias. Na maioria das vezes, as fotos em que eu “saía”,  eram de clics esporádicos. Ironicamente, hoje eu possuo três câmeras e continuo raramente a "sair" nas fotos.
Permaneci com a yashica até o início de 2002, ano em que adquiri uma outra câmera analógica, dessa vez uma Tron LCD Zm, cuja objetiva oferecia um zoom óptico de 35 - 60 mm. Oferecia os recursos de auto-flash embutido e redutor de olhos vermelhos, além de um contador digital de foto. Havia também a possibilidade de se incluir o dia,mês e ano no fotograma.

Após muitos e felizes clics, passei a câmera em frente, ocasião em que comprei a minha primeira câmera fotográfica digital (em 2006), uma Mitsuca DC7328BR de 7.0 megapixels, com auto-flash embutido, funcionamento a pilha e retro-tela de LCD com 3.0 polegadas. Oferecia um zoom de 3x equivalente a 34-102mm e f.5.8-17.4. Uma verdadeira jóia a qual ainda hoje, a utilizo, sobretudo, devido a sua praticidade e discrição.
Finalmente após longa reflexão "filosófico-financeira", resolvi comprar a minha primeira câmera DSRL, uma Canon t1i, também conhecida como 500d ou Kiss.  No dia 27 de agosto de 2009 foi um dia memorável, pois nas minhas mãos estava aquelaa maravilha e misteriosa tecnológia, com múltiplas funções.
    Lentamente com o manuseio a e prática fui adquirindo o conhecimento mínimo necessário para operá-la satisfatoriamente. Em seguida, fui dominando algumas técnicas fotográficas, até que finalmente, comecei a utilizar razoavelmente aquela recém-chegada belezinha.





    Mas como sabemos, homem é um eterno insatisfeito, logo surgiram outras necessidades, as quais a T1i já não era capaz de atender plenamente. Foi então que entrou em cena a canon 7d. Adquiri essa preciosidade em 21 de março de 2011, contudo, entre a Ti1 e a 7d, vieram algumas objetivas, outros tantos filtros,  acessórios diversos, revistas, livros, cursos e o que parecia apenas uma brincadeira despretensiosa, foi ganhando status de “passa-tempo sério”, aliá, é a classificação atua dassa minha paranóia.







       Após todas essas experimentações, ficou uma pergunta: Onde isso vai parar? Uma coisa é certa: chega de acessórios e câmeras por um bom tempo. É lógico que a verdadeira diversão só tem brilho quando não nos tornamos reféns da tecnologia. Precisamos abandonar a inclinação compulsiva de  tentar acompanhar os últimos lançamentos tecnológicos. Eu, particularmente, precisei trilhar este caminho para que finalmente, pudesse encontrar a paz e poder defrutar plenamente da satisfação de brincar com a luz.
 

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O olhar do Artista e o cérebro do Cientista

Desde a idade antiga já se conhecia vários fenômenos ópticos. Os historiadores relatam em cidades antigas como a Assíria já havia a lente de cristal. Na Grécia usava-se a lente de vidro como recurso para se obter fogo. Há também uma descrição sobre espelhos esféricos e parabólicos que se deve a Euclides, o mesmo da geometria plana; contudo os equipamentos ópticos e a compreensão perfeita sobre os fenômenos luminosos se desenvolveram somente a partir da era renascentista, com o aparecimento de maravilhas como os telescópios, os microscópios e é claro, as câmeras fotográficas modernas.
Com o apogeu do método científico, ciências importantes como a fisiologia e a anatomia humana saíram de sua infância para fazer páreo as suas irmãs mais velhas, física, química, biologia e outras. A partir de então, a luz foi sendo sistematicamente dissecada, ampliando geometricamente o conhecimento humano ao seu respeito. Não obstante, a luz ainda hoje causa espanto e encantamento, seja por sua natureza dual onda-partícula, seja pelo poder de dar vida, significado e cor ao universo humano.
Mesmo ignorando todos estes fatos, não há como ficarmos indiferentes ao momento mágico do toque da luz sobre a superfície de um objeto. A interação visual que temos com o mundo, está na dependência direta do intervalo de tempo entre as idas e vindas dos fótons sobre nossa retina. É dessa forma que somos informados não apenas sobre a existência física dos objetos que nos cercam, mas sobre da natureza transcendente destes. Tente você mesmo, basta dedicar alguns segundos olhando, mas não olhando apenas por olhar e sim, olhando com olhos de ver, e logo você se dará conta do poder da luz, ao presenciar a dança das cores incendiando prédios e movimentando planícies.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Dicas de como fotografar como um profissional (6)

Etimologicamente falando fotografar é escrever com a luz, já que a palavra deriva do grego photus (luz), e graphein (grafia, escrita). Obviamente que para nos expressarmos adequadamente através da fotografia, devemos conhecer melhor sua técnica e fundamentos, tal qual acontece com os signos idiomáticos. Então convém conhecer três principais dispositivos que compõem, digamos assim, a anatomia das câmeras fotográficas DSLR.
         Objetivas
         Correspondem a um conjunto de lentes montadas no interior de um barril,dispostas e calculadas com precisão para produzir uma imagem no interior da câmera fotográfica, especificamente na superfície de um sensor eletrônico (no caso das câmeras digitais), ou sobre um filme (no caso das câmeras analógicas). As objetivas fotográficas possuem um elemento importantíssimo para o controle da luminosidade chamado de diafragma.
         Diafragma
         É uma combinação de lâminas metálicas ou de plástico que formam um orifício com graduações para possibilitar diversos tamanhos de aberturas. Juntamente com o obturador, o diafragma controla a quantidade de luz que entra na câmera fotográfica pela objetiva. Um orifício pequeno deixa passar menos luz que um orifício maior. Os diferentes tamanhos de orifícios correspondem a um parâmetro conhecido como f-stop. Então, um diafragma a f.2.8 (Lê-se 2.8 de f-stop) corresponde a uma abertura (orifício) grande, enquanto que f.22 corresponde a uma abertura pequena. Atenção aqui para um detalhe importante que muitos iniciantes confundem; conforme a abertura do diafragma aumente, o número (f). diminui seguindo uma proporção específica.
        A escala dos números f. surgiu a partir de uma abertura padrão teórica que permite a passagem de 10.000 unidades de luz, equivalendo a abertura f.1. Sua área ao ser dividida pela metade (f. ½), reduz a quantidade de luz a uma quarta parte de f.1. Portanto f.1 permite 10.000 unidades de luz e f. ½ permite 2.500 unidades de luz. Para facilitar o manejo dos cálculos da exposição, criou-se valores de abertura intermediários, os quais permitem a passagem da luz em quantidades proporcionalmente intermediárias.
      As objetivas modernas (mais recentes) têm sido construídas com abertura máxima de f.1.2, pois comprovou-se que aberturas abaixo desse valor acabam comprometendo a qualidade final da imagem, gerando profundidade de campo criticamente rasa, prejudicando o foco e outros parâmetros ópticos (trataremos da profundidade de campo em outro momento).
       Obturador
       Enquanto o diafragma regula a entrada de luz pela objetiva a partir da modificação da quantidade dos feixes luminosos, o obturador ajusta o tempo em que essa quantidade de luz entrará na câmera. Este tempo é geralmente muito rápido e quando combinando com a abertura do diafragma, proporciona a "exposição" fotográfica desejada, com infinitas possibilidades de criação e personalização da imagem captada, caracterizando a "presença" do autor na fotografia.
      Câmeras avançadas conseguem abrir e fechar o obturador numa escala de tempo que vai de 30 segundos a 1/8000 segundos, incluindo a função B (bulb) onde o obturador permanece aberto durante o tempo em que se pressiona o botão de disparador.
       Observe que a maior velocidade equivale a oito mil avos de segundo, ou seja, equivale a apenas uma parte das oito mil partes em que foi dividido o intervalo de um segundo, uma velocidade mais rápida que a piscada humana, justificando o porquê algumas pessoas acabam saindo com olhos fechados em certas fotografias. Em resumo o diafragma se situa no interior da objetiva e controla a entrada de luz na câmera, o obturador é um componente da câmera e controla o tempo de exposição da fotografia.
       Ao diminuir a luminosidade pelo diafragma (diminuir o orifício ou aumetar o f-stop), será preciso compensar aumentando o tempo de exposição e vice-versa. Observe que altera-se o diafragma e o obturador, mas permanece constante o "valor de exposição" (EV) que é a quantidade de luz resultante da soma entre diafragma e obturador. Contudo existem situações em que é mandatório a manipulação direta de EV, mas nesse caso, implica alterações concomitantes no obturador e no diafragma de forma automática.
        O EV portanto, corresponde à quantidade de luz necessária em determinada circunstância, para realizar o registro fotométrico adequado. Na maioria das câmeras compactas (amadoras), não é possível controlar o obturador e o diafragma de forma independente, no máximo o que se consegue é alterar os valores de EV, implicando em limitações quanto a exposições criativas, pois essas câmeras são projetadas para simplificar todo o processo, pois se destinam a uso popular. Tem como principal vantagem realizar o registro fotográfico de forma prática e sem complicações teórico-metodológicas, mas entre as muitas desvantagem, obtem-se fotogramas com uma escala de exposição limitada, calculada pela própria câmera, daí sua denominação mais clássica de “câmeras aponte e dispare”.
       No próximo post sobre este assunto falaremos das possibilidades de se realizar fotos criativas advindas da manipulação do obturador e diafragma.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

E lá vai o barco !

Nas águas às vezes rasas, noutras profundas o barco ruma para o horizonte da vida. Pequeno no tamanho mas grande no sonho. Um barco rústico feito com a disciplina e o empenho dos que nele navegam. Há momentos em que é movido por sangue, suor e lágrima. Noutros, por alegrias, amores, contentamentos. Na bússola, a esperança, a bordo sonhos, desejos, poesias.
A tripulação procura nas estrelas uma direção a seguir, talvez esteja no céu, quem sabe no mar, talvez não esteja em nenhum lugar, mas o importante é procurar. Ventos fortes sopram mas a brisa vem e tudo fica bem. Quando tudo parece impossível, descobrimos sempre uma saída, uma solução, o importante é procurar. Mas há algo diferente... alguém começa a cantar, na melodia o sinal, a harmonia, a dose certa, algo de sólido se enraíza: eis uma amizade. E o barco? Continua a navegar.


                                                                          
Atropelando os fantasmas do passado, o barco ruma para o norte, vai para o sul, sempre guiado pelos ventos do futuro conduzindo-o a uma terra que fica longe daqui, logo ali, perto d’aculá, em todo lugar. Nesta viagem, bancos de areia hão de nos desafiar, mas o luar,  ah! doce luar, se falasse o que diria? Quem sabe poder e utopia, um clima de magia, embaraços, fragilidades. Podemos tudo é verdade, então vamos empurrar. Avante! não esperem, antes uma pausa para comemorar.
Por estas águas muitos barcos já passaram, alguns rápido que não viram o segredo do lugar, outros por demais vagarosos fizeram destas águas uma viagem sem cores, talvez por não perceberem que ainda há de se descobrir à beleza do porvir. Mas o barco segue. Atrás ainda o porto, a frente, um céu de brigadeiro, e dentro, sim a chama ainda arde fortemente no espírito, na determinação e no talento de seus navegantes. Que não se apague jamais!

O sol se põe, o crepúsculo chega, e a brisa beija-nos com a esperança de um futuro promissor. Marinheiros, sejamos humildes, pois o novo mundo nos aguarda. No quebrar das ondas, nosso pequeno barco segue obstinado, e em sua proa, as águas expõem e oculta às palavras: turma B, Medicina-2002. UFPA.
Todos ao convés: terra a vista! Não,esperem... ainda é preciso navegar.

                                                 (Publicado em O Liberal em 28 de dezembro de 2002)
Camarão cabeça

"Cabeça de camarão, cabeça de cação, canção! Cabeça, cabeça, cabeça de mamão, canção, cação, coração, cabeça, cabeça de cação, cabeça de camarão, cabeça, cabeça, só cabeça, sem coração, sem opção, cabeça."

Cursando Biologia, e daí ?

A silenciosa batalha de nervos com seus encantos e desencantos possibilita que a angustia vivenciada em quatro horas durante a execução da prova, represente anos de renúncias e expectativas. Ao sair o listão, os bairros de Belém assistem a outra batalha, desta vez não nas salas dos cursos pré-universitários, mas nas ruas.
Em meio a projeteis de ovos, maizena e tinta, a azáfama dos aprovados delineia a paisagem: uns correm, outros choram, berram, pulam, se abraçam ou simplesmente estatelam-se em frente ao rádio, contorcendo-se ante a narrativa emocionada dos locutores das emissoras locais. Atendemos incrédulos às congratulações que chegam pelo telefone, pois é neste momento, que parentes e amigos surgem a todo instante, justamente na hora do sufoco psicológico. Carros desfilam pelas ruas rumo aos colégios e cursinhos - pontos estratégicos da fuzarca.
Uma vez confirmado o nome no listão, saboreamos imenso e singular prazer ao desfrutamos duas grandes alegrias: a realização do sonho de nos tornarmos universitários e, a satisfação nitidamente estampada no semblante de nossos familiares e amigo. De certo, finalmente chega o momento de gozar do "status" de universitário. Não raro nas esquinas da Tropicalíssima, cabeças femininas exibem tonalidades multicoloridas fazendo páreo à brilhantes carecas cheias de orgulho e sublimação, contagiando até aos mais precavidos ao som do regionalíssimo "Alô, alô, alô papai, alô mamãe..."
Contudo, diante da propalada exigência competitiva de uma sociedade globalizada em que o mercado de trabalho tende, cada vez mais, a absorver mão de obra especializada, a façanha de ter atravessado o funil do curso superior massageia as esperanças de um futuro promissor. 
Não obstante, a saga acadêmica está apenas começando. Durante algum tempo, inebriados pela sensação de alívio reconfortante ao ter alcançado o objetivo, maior do estudante do ensino médio, descansamos nossa mente dos alfarrábios secundarista, sonhando com a habilitação e a matrícula universitária. Agora tudo será diferente, pensamos! Permanecemos perseverantes e otimistas na certeza de que iremos realizar, a partir de então, o que ninguém nunca realizou, convictos de que somos senhores de nosso destino. Ledo engano! Não é preciso mais que dois meses para que as primeiras decepções saltem aos olhos. Talvez devido a nossa prepotência de jovens calouros vitimados por ilusões de um sistema educacional falho e deficiente.
Ao cabo de alguns meses, a ansiedade e o orgulho inicial, dão lugar a uma desconcertante sensação de obliteração e, quando muito, restando reles vestígios da emoção inicial. A válvula das desilusões abre-se exatamente quando diante de nós, irrompe-se uma realidade escrita com letras garrafais: "greve geral na universidade pública".
Assim, desmancham-se intrepidamente as promessas fantásticas do paraíso universitário, outrora, recheado de possibilidades profissionais. Percebemos finalmente, no alto das sapatas acadêmicas, que nossa verdadeira conquista não foi a “glamourosa” entrada no campus da UFPA - temperada a ovos, maizena e tinta, - mas tão-somente sua rápida, discreta e eficiente saída.
Lutamos para nos formar no tempo mínimo de integralização curricular. Desejamos realizar cursos, ganhar bolsas de estudo, participar de eventos acadêmicos, ter boas aulas, professores dedicados e, finalmente, percebemos que a experiência na universidade jamais se dissociará ao contínuo esforço em driblar as dificuldades, sejam interiores ou exteriores. Crescemos no exercício honesto de caminhar com as próprias pernas. Nesta batalha pela sobrevivência acadêmica, vamos enfrentando as competições presentes na formalidade burocrática do sistema ou na informalidade dos círculos de "amizades".
Obviamente nem todos sobrevivem, muitos se informam mais poucos se formam e, neste cenário de estudantes desiludidos, presenciamos alguns calouros se refugiarem no curso de segunda opção, simplesmente por não disporem de coragem suficiente para continuarem tentando a aprovação no curso em que realmente pretendiam, em geral os cursos mais concorridos. E em sendo assim, aproveito para compartilhar minha experiência pessoal com os futuros colegas de profissão.
Sabemos que inexiste uma fórmula para o sucesso acadêmico e profissional, entretanto, a experiência indica-nos que dispomos de muitas possibilidades para superar os percalços da profissão e o caminho mais sensato está na audácia em preservar a vivacidade da emoção inicial advinda do momento do vestibular.
A realização de uma graduação tranqüila e sem atropelos requer algumas atitudes as quais não constam no manual do calouro. Durante a graduação será comum não dispormos de tempo suficiente para a dedicação integral às atividades acadêmicas, mas é fundamental a disposição em buscá-lo incessantemente. 
       Aos legítimos calouros de Biologia, convém evitar trancamentos e reprovações em disciplinas. Não construa uma carreira com bravatas e cotoveladas; seja colaborativo e altruísta no convívio acadêmico. Informe-se permanentemente sobre estágios e oportunidades de trabalho, a fim de escrever o quanto antes, um currículum vitae participativo em eventos específicos na sua área de interesse.
É importante o conhecimento básico de línguas estrangeiras, Inglês principalmente, faça cursos livres, leia, escreva, pratique o cotidiano da pesquisa. A rotina redacional e o conhecimento de informática são outras exigências imprescindíveis à boa formação. Não espere para chegar no terceiro ou quarto ano do curso, para realizar estágios em ensino e pesquisa. Bolsas de estudo são regalias restritas mas, disponíveis a quem se planeja desde cedo a conquistá-las. Tive sorte de trilhar os caminhos da Biologia com amor e sem nunca ter perdido a fé e o brilho da emoção inicial. Quem sabe aqui estejam alguns ingredientes para se alcançar uma formação sólida e consistente em Ciências Biológicas e quiça um sucesso profissional.
                 


       Publicado no caderno Opinião de O Liberal em 28 de janeiro de 2000



Dicas de como fotografar como um profissional (5)

     Neste capítulo apresento algumas siglas e seus respectivos significados de acordo com cada fabricante (os mais populares). Estas siglas geralmente passam despercebidas, mas são importante por conterem informação sobre a qualidade e funcionalidade das objetivas fotográficas. Em geral fazem parte do universo das câmeras profissionais e/ou semi-profissionais, ou seja, das câmeras conhecidas como DSLR ou Reflex.
    Mas o que isso quer dizer? DSLR é a sigla em inglês para Digital Single-lens Reflex (Câmera Digital de Lente por Reflexo). Isso significa que uma DSLR é a versão digital de uma SLR (câmeras reflex analógicas ou de filme). Uma das principais diferenças entre uma câmera DSLR para uma câmera digital compacta (câmeras digitais comuns) é que ao invés da imagem ser captada diretamente por um sensor e em seguida ser reproduzida na tela de LCD atrás da câmera, nas DSLR existe um espelho associado a um pentaprisma, o qual serve para refletir a imagem para um visor (aquela janelinha atrás da câmera onde se aproxima o olho para tirar a foto). No exato instante em que se clica, esse espelho se recolhe e o sensor é exposto a luz que vem da objetiva capturando a imagem.

CANON
USM - Ultrasonic Motor, ou motor ultrassônico do autofocus, que pode ser do tipo anel ou micromotor;
mais rápido e silencioso que o motor convencional da marca.



IS - Image Stabilizer, ou estabilizador de imagem; permite velocidades de obturador até 2 pontos mais
baixas sem que a foto saia tremida.



EF - Electro Focus, objetivas autofocus desenvolvidas para câmeras da linha EOS.


L - Identifica lentes especiais, profissionais, com elementos óticos especiais (feitos com cristais UD, S-UD
ou fluorita); com foco e retrofoco internos (I/R) de última geração, dando maior velocidade ao autofocus;
com foco de toque manual com ação não interrompida, ou seja, mesmo no autofocus o fotógrafo pode
ajustar manualmente o foco sem precisar acionar a chave de modos de foco.

DO - Diffractive Optics, ou elemento ótico difrativo multicamada, que corrige a aberração cromática, de
características asféricas e superior ao cristal UD, permitindo lentes menores e melhores. Atualmente,
somente a nova 400 mm f/4 L IS USM tem essa característica.

FD - Sistema manual de lentes da Canon dos anos 1970 e 80 que usam um sistema de alavancas e pinos
mecânicos para transmitir informações para a câmera.

UD - Ultra Low-dispersion Glass (vidro de dispersão ultra baixa)
Elemenos de lentes fabricados com vidros UD tem um indice de refração menor do que as de vidro
comum. Tais elementos são, normalmente, usados para corrigir aberração cromática.


MINOLTA   (Atualmente extinta tendo sua tecnologia incorporada a Sony)AF - Objetiva autofocus.

APO - Define uma objetiva apocromática, com elementos óticos para que haja menor aberração
cromática.

G - São as lentes especiais da marca, com maior abertura e alto desempenho, com altíssima qualidade de imagem e com abertura circular, o que proporciona um "bokeh" maravilhoso. Finalmente, o G é de "Golden", se não me engano - tanto que todas as objetivas G têm um anel dourado, normalmente próximo à rosca do filtro.

SWM - "Supersonic Wave Motor". Denota objetivas em que o motor do AF está na objetiva e é muito rápido e silencioso.
HS - "High-Speed", em algumas objetivas "G". São objetivas que focam rapidamente apesar de não serem SSM.

D - Isso significa que a objetiva incorpora o mecanismo ADI ou "Advanced Distance Integration" para a determinação da potência do flash, dispensando o uso de preflash para determinar a exposição.

MF - Foco Manual

MD
- acredita-se geralmente que signifique "Minimum Diaphragm" pois as lentes MD têm uma aba para indicar qual a abertura mínima da lente ao corpo. No mais, são iguaizinhas às lentes MC.


NIKON

AI - Aperture Indexing Em 1977 a Nikon lançou uma série de lentes que podiam comunicar-se a abertura
da lente para o corpo da câmera através de um contato mecânico. Estas lentes são facilmente
identificadas pela "orelhas" de metal no seu topo (ver imagem). As que apresentam pequenos furos em
cada orelha são lentes AI ou AI-S

AI-S - Outra variação das lentes F da Nikon lançada em 1981. Essencialmente são lentes AI com suporte
para algumas automações a mais, como transmissão linear de informação de abertura.

AF/AF-S - As objetivas AF incorporam o motor de autofocus convencional da Nikon; as AF-S recebem o novo motor "Silent Wave" com foco automático mais rápido e silencioso.

AF-D - Uma das muitas variações da linha de lentes F da Nikon. As lentes Nikon tipo AF podem
transmitir informações de distância para o corpo da câmera. Os dados de distância do foco é usado pelo
sistema de medição de matrix 3D da Nikon e pelo sistema de medição 3D dos flashes.

AF-DX - São lentes autofoco Nikkor projetadas para SLR digitais Nikon com fator de corte de 1.5x. Elas
são menores e mais leves que as Nikkor padrão devido à não ter que cobrir todo o sensor (não fullframe).
Em geral elas não são utilizáveis em corpo Nikon 35mm.

AF-I - Autofocus Integrado. Em 1992 a Nikon seguiu o exemplo da Canon lançando uma nova serie de
lentes com motor integrado ao corpo da lente. Até então a Nikon só produzia sistemas autofoco no corpo
das câmeras. Estas lentes são equivalentes às USM da Canon.

IF - Foco interno, ou seja, o movimento dos elementos estão resumidos à parte interior, sem alteração
de tamanho externo da objetiva, o que permite lentes mais compactas e leves, além de distância de foco
mais curtas.

D/G - As objetivas tipo D e G informam a distância entre a câmera e o assunto ao corpo da autofocus
Nikon, o que tornou possível avanços na fotometria matricial 3D e no sensor para flash um
preenchimento mais equilibrado.

ED - São objetivas que têm o cristal ED de dispersão mínima de luz, o qual reduz muito as aberrações
cromáticas, com ganhos em nitidez e reprodução de cores.
Micro - São as lentes para macrofotografia da Nikon.

VR - Objetiva com redutor de vibrações (como o IS da Canon), que permite, no caso da Nikon, trabalhar
com até 3 velocidades abaixo da recomendada sem risco de foto tremida.


PENTAX

AL - Aspherical, lente com elemento asférico.

ED - Objetiva com elemento ótico de baixíssima dispersão de luz.

IF - Internal Focusing, ou foco interno, como o sistema de outras marcas.

FA - Objetiva autofocus.


SIGMA
ASP - Aspherical, lente com elemento asférico.Os elementos não esféricos de uma lente podem reduzir o
numero total de elementos necessários em um tipo de lente. Eles podem melhorar o desempenho e ao
mesmo tempo reduzir o peso e o tamanho da lente. As lentes Aspherical maximizam a qualidade ótica e
minimizam o tamanho e o peso das mesmas. As lentes Aspherical reduzem alguns problemas
normalmente associados com grande angulares e zooms, tais como flare e distorções das bordas.

APO - Apochromatic, lente com design apocromático e com cristal SLD, que baixa dispersão paradiminuir a aberração cromática.

IF/RF - Internal and Rear Focusing, ou foco interno e retrofoco, como o sistema de outras marcas.

HSM - Hyper Sonic Motor, ou motor hiper-sônico, que movimenta o autofocus.

UC - Ultra Compact, ou lente ultracompacta: pequena e leve.

DL - De Luxe, ou de luxo, lente com acabamento especial e preço atraente.

DF - Dual Focus, ou foco de duas formas, que permite a correção do foco automático manualmente.

HF - Helical Focus, ou foco helicoidal, de forma espiral, para eliminar a rotação da lente frontal.

EX - Excellence, ou excelente, que define a lente profissional da marca.

OS - Esta função utiliza um mecanismo embutido que compensa as trepidações que a camera pode causar. Expande consideravelmente as possibilidades fotográficas quando se está fotografando sem o auxilio do tripé. "Estabilizador ótico".

DG - Estas são objetivas de aberturas grandes com angulações e distancias focais curtas. Com abundancia de iluminação periférica, são ideais para cameras digitais SLR mantendo a usabilidade para as tradicionais 35mm SLR.

DC - Estas são objetivas especiais feitas para que o circulo da imagem encaixe no menor tamanho de sensor da maioria das cameras digitais SLR. Seu design especializado dá a estas objetivas as ideais propriedades da camera, e sua construção leve e compacta ajudam bastante.


TAMRON

ASL (Aspherical Lens) - Maximizam a qualidade ótica minimizando o número de componentes e, consequentemente, tamanho e peso das mesmas. Evitam distorções nas bordas.

LD (Low Dispersion) - Diminui aberração cromática (é semelhante a Sigma APO ou Nikon ED)

DI - Lentes otimizadas para SLR digitais. Melhoram a distribuição de luz. Podem ser usadas em 35mm também. Semelhante a sigma DG.

Di-II - Desenhadas exclusivamente para digitais, com sensores de tamanho APS-C. Menores e mais baratas. Não servem para SLR Full-Frame (se não me engano causam grandes distorções). Semelhantes às Nikon DX / Sigma DC

IF - Foco interno. Não modifica o tamanho externo da lente

XR (Extra Refractive Index Glass) - O uso do XR optimiza uma distribuição geral do poder ótico e também reduz várias aberrações para o mínimo absoluto enquanto atinge notável compactação. Além disso, o posicionamento adequado de dois elementos híbridos esféricos mantem a performance de imagem e diminuir e comprimir o sistema ótico inteiro.

SP - Super performance - série que indica lente te alta-performance, indicando uso profissional.
Similar ao EX das Sigmas.




(Fonte: SIMERMAN, W. F. Fotografia digital e tecnologia, 2010)

domingo, 1 de maio de 2011

Tu és Fotógrafo ?



É interessante como nos deparamos com situações embaraçosas, cujas conseqüências nos remetem a reflexões sobre como lidamos com nossas próprias dificuldades. Falo da tendência que temos de julgar as pessoas a partir de suas posses, seus títulos e rótulos sociais, ignorando aquilo que representam ou as coisas das quais são capazes de realizar sem que para isso tenham feito uma “faculdade” oficial. Outro dia fui até Abaetetuba visitar uma grande amiga, professora Marília Pontes.  Abaetetuba ou simplesmente Abaeté, sempre me trouxe boas recordações, então sempre que posso, dou uma passada por lá a fim de refrescar a mente nas águas geladas de seus inúmeros igarapés e saborear o típico pãozinho baguete.
Não faz muito tempo as bicicletas eram o principal meio de locomoção da população. Hoje com o aumento de veículos automotores, as bicicletas foram substituídas por uma descontrolável frota de motocicletas, onde a coisa mais difícil é ver algum piloto com capacete ou obedecer às faixas de trânsito. Contudo, o que mais chama a atenção neste cenário caótico é assistir alguns irresponsáveis cidadãos conduzir, sob duas rodas, toda a família, um verdadeiro exercício de contorcionismo, falo de cinco e até seis pessoas.  
Não se trata de um fenômeno exclusivo de minha hospitaleira Abaeté; certamente muitas outras cidades do interior devem ter incorporado em sua pacata rotina, semelhante drama na ordem social. Contudo, o que me levou a escrever estas linhas foi outro fato, o qual  envolve um viajante curioso, três apaixonados torcedores de futebol e um nobre comerciante.
Pois bem, era manhã de sábado e as horas já se avançavam quando resolvi entrar num estabelecimento comercial tão rústico que mas parecia as extintas mercearia portuguesas dos anos 70. O ambiente úmido e com iluminação precária, combinava com as altas paredes de pintura desbotada e descascada (tema interessante sobre textura e contraste de cor em fotografia), a qual exibia numerosas prateleiras de madeira, repletas de mantimentos e bugingangas das mais variadas, desde carne seca, passando por alimentos enlatados, velas, sabão até combustível para embarcações, tudo ali, exposto sem muito critério na distribuição.
Lentamente e com minha câmera em punho, me aproximei do balcão em busca de um cenário que pudesse representar a “antiga Abaeté”. Já a poucos metros da entrada, uma mesa com cinco garrafas de cerveja, dois copos e dois distintos cavalheiros, ambos aparentando uns cinqüenta e poucos anos, conversavam animadamente. Ao fundo uma eletrola tocava clássicos do Reginaldo Rossi. A julgar pelas aparências, tratava-se de dois compadres pescadores, provavelmente, ribeirinhos fazendo hora para voltar a seus lares após descarregamento do pescado na cidade.
O assunto entre os dois era a escalação do "Re-Pa" - para quem não sabe, RePa significa em terras paraoara o duelo entre os dois mais populares times de futebol, o Remo e o Paysandu. Após alguns segundos olhando fixamente para aquela cena, fui interrompido pelo vendedor atrás do balcão:  - Olá, o senhor é fotógrafo? - Sim, mas não trabalho nesta área - respondi de pronto. Em seguida o solicito vendedor rebateu: - Então é apenas uma diversão sua? Eu já fui fotógrafo profissional antes de abrir a merciaria e sacou uma leica de fabricação alemã.
Aquela altura do campeonato nada mais me distraia alpem da conversa com o seu Isaísas, dono da merciaria. Meus pensamentos agradeciam a Deus por ele não ter sacado no lugar de uma mística câmera fotográfica, um três-oitão ou coisa parecida, sei lá, vai que! A partir de então, seu Isaías mudou sua expressão fechada e começou a falar sobre seu passado como fotógrafo.  Contou-me de forma ligeira que sempre foi apaixonado pelo oficio e aquela “pretinha” (a câmera Leica que segurava), nunca o tinha deixado na mão. Seus olhos não negavam o orgulho e a paixão que tinha pela câmera que, segundo ele, ainda funcionava perfeitamente.
Nossa conversa se prolongou por alguns minutos, ocasião em que mostrei minha câmera, comentando sobre seu desempenho e funções e, vice versa. Daí em diante seu Isaías fez a maior das revelações dizendo: “Sérgio, aprendi todos os segredos dessa arte sozinho, sem ajuda de ninguém, tudo por conta própria. Antigamente fotografia era um negócio muito fechado, quem sabia, sabia e não passava pra ninguém, principalmente aqui no interior, onde tudo era mais difícil. Aos poucos fui comprando os reagentes, os filmes, fui experimentando, errando, corrigindo, testando e as oportunidades de eventos sociais como aniversários, casamentos, foram surgindo até que me dei conta, 30 anos havia passado. Hoje, tudo isso que estais vendo aqui – apontou para o estabelecimento - foi conseguido com a ajuda dessa “pretinha”. Com ela consegui criar meus cinco filhos e ainda dei uma casinha para cada um morar, então cumpri com minha obrigação de pai.”   
Naquele instante um jovem vestido com a camisa bicolor invade o recinto dirigindo-se aos dois senhores e já brandindo em alto e bom tom: “Vocês por acaso são técnicos ou já jogaram em algum time para falarem assim do time?” Aquela foi a oportunidade para eu fotografar o ambiente e logo me despedir de meu ilustre prosador, saindo de fininho.
Já no caminho de volta a casa da Marilia, fiquei me perguntando: Para alguém falar ou praticar fotografia com conhecimento de causa, é realmente necessário ser um fotógrafo profissional? Para alguém falar com propriedade sobre futebol ou outro esporte qualquer, é realmente preciso ser jogador ou técnico? Para alguém dirigir automóvel é necessário além da CNH ter  um certificado de motorista profissional ou ser mecânico ou mestre em motores a explosão? Deixo aqui estes questionamentos para que cada qual encontre sua própria resposta mediante reflexão sincera de livre de preconceitos. Para tanto, não podemos desconsiderar o fato de que, diferentemente de certas profissões, a exemplo da Medicina ou Direito (refiro-me a estas duas apenas por se tratar de atividades tradicionais e bem estabelecidas), existem outras profissões igualmente nobres, complexas e tradicionais que não requerem o formalismo acadêmico para serem bem praticadas, bastando para isso, a dose certa de interesse, amor e dedicação a exemplo de seu Isaías, que se transformou num profissional por conta e iniciativa própria, semelhante a muitos outros grandes fotógrafos que esbanjam simplicidade e coragem.
Neste sentido, apesar de não me considerar um profissional em fotografia, continuarei dando dicas sem a intenção de ofender ou desprestigiar os profissionais.