Este é um espaço predominantemente pessoal e familiar, mas não se limita a esta categoria. Tem como proposta fundamental apresentar pensamentos, relatar experiências, propor discussões, criar novas amizades e consolidar as já existentes.

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sexta-feira, 1 de julho de 2016

Diário de um viajante de sorte. Capítulo 42.  *
Algumas coisas são absolutamente imunes as mudanças dos tempos e do espaço geográfico, permanecendo as mesmas.
Andei por esse caminho diversas vezes. O trecho que outrora ligava dois ambientes, hoje ligou dois mundos: o meu presente com o meu passado.
Dia desses percorri-o demorando mais do que o de costume, pois cada passo carregava consigo o peso de muitas recordações e a sensação de viajar de volta para quando tudo começou.
E em pensar que a maioria daqueles transeuntes que hoje vi passar nem eram nascidos ou estavam se alfabetizando quando nós, graduandos de Biologia por ali passamos.
Por aquela saudosa ponte de ferro no Campus da UFPA vi novamente passos apressados, cheios de orgulho e autoconfiança exatamente igual a 1996, mas também, fez-me lembrar que já estive em dois mundos. Sim, a ponte já me conduziu à dois mundos em tempos distintos
Tal qual Gulliver1, eu também poderia dizer que já estive em Lilliput2 e foram anos incríveis, muito produtivo, repleto de aventuras e desejos concretizados. Após essa fase áurea fui parar em Brobdingnag3 e ali permaneci por seis longos anos, foi quando finalmente encarei-me no espelho.
Foram tempos difíceis que me fizeram rever muitos conceitos e pontos de vista. Não há nada melhor como poder visitar o inferno, assim, só de passagem, e retornar para os planos mais tranquilos da mente, de forma renovada, enxergando o mundo com outros olhos. Certamente aqueles foram anos de intensa experiência, sobretudo, aprendizados sobre mim mesmo.
Esse contraste entre os dois mundos, deixou marcas, a maioria muito boas, outras nem tanto. Sobrevivi, saí com a mochila carregada de itens desejáveis e escassos nos dias atuais, mas, o peso daquelas duras lições durante o convívio com os gigantes, deixaram algumas cicatrizes, desarrumaram o taciturno arranjo de soberba, prepotência e arrogância que compunha o cimento de minha personalidade, encrencas psicológicas que ainda hoje venho caminhando no sentido de resolvê-las de forma lenta e gradual, tal foi a força daquelas experiências, um presente de Deus nesta vida.
A minha viagem continua, estou prestes a cruzar outra fronteira, uma nova fase na vida que irá requerer uma mochila mais pesada de virtudes e acertos, itens indispensáveis para subsidiar minha historia, com atos coerentes às minhas palavras e, assim, possam ser uteis no processo de criação e educação de minha futura descendente.
Tomando como base a referida fábula anedótica a qual serve de pano de fundo para expressar o contexto de meu processo de formação profissional e de reforma íntima, posso afirma que nunca mais me deparei com cidades miniaturas. Hoje em dia as cidades que visito são habitadas predominantemente por gigantes e, quando muito, encontro aqui e acolá alguém da minha altura e então, regozijo-me com a construção da nova amizade e da possibilidade da parceria ao longo da caminhada.



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(*) Texto produzido para uma atividade do curso de especialização em preceptoria no SUS do Hospital Sírio Libanês.

1-            Guiliver:  Personagem fictício de  um romance satírico do escritor irlandês Jonathan Swift, um clássico da literatura inglesa denominado de "As Viagens de Gulliver" 
2-           Lilliput: É uma ilha do romance As Viagens de Gulliver, localizada no distante Oceano Índico. Nessa ilha o personagem principal (Guiliver) encontra uma população de pessoas minúsculas (cerca de 15 centímetros de altura), que o tomaram por gigante.

3-           Brobdingnag:  É o segundo destino de Gulliver em sua época viagem. Após ir embora de Lilliput, embarca em uma nova viagem chegando a Brobdinag, uma terra dos gigantes, e é aí que Gulliver começa a perceber como os liliputianos se sentiam em relação a ele.
O invisível que salta aos olhos

Nem sempre estamos aptos a ver, mas existe um mundo ao nosso redor invisível e que algumas raríssimas vezes nos permitimos entrevê-lo. Um mundo feito de pessoas e coisas que nos escapam aos olhos. A imagem que compartilho é um exemplo, mas esse mundo não se limita a esse grau de realidade física captada pelas lentes de uma câmera fotográfica. Normalmente esse mundo invisível é muito mais sutil e está muito mais próximo a nós do que somos capazes de imaginar, ele está presente em nosso cotidiano e em nossa rotina. Esse mundo faz parte do convívio familiar, compõe nossas reuniões de amigos e nosso ambiente de trabalho. Vez por outra nos é revelado durante uma conversa mais atenciosa e acolhedora, exatamente como ocorreu no módulo do mês de junho do curso de preceptoria do SUS do Hospital Sírio Libanês, quando, compartilhamos num clima de reciprocidade e confidencialidade nossas fragilidades, nossas angústias, dificuldades e perspectivas a partir de um contexto amplo que envolvia nossa trajetória de vida. Perceber este mundo invisível, enxergar suas nuances é um exercício que precisa ser praticado com todas as forças d´alma e, definitivamente, uma ferramenta que nos tem sido oferecida para melhorar tal habilidade são as metodologias ativas.