Este é um espaço predominantemente pessoal e familiar, mas não se limita a esta categoria. Tem como proposta fundamental apresentar pensamentos, relatar experiências, propor discussões, criar novas amizades e consolidar as já existentes.

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terça-feira, 2 de outubro de 2012

Lições de uma dedicada professora

Entre os anos de 1981-84 estudei na Escola Estadual de primeiro Grau Nossa Senhora das Graças, situada a Rua Castelo Branco, esquina com a Mundurucus. Todos os dias na hora do recreio, seguíamos até o refeitório em fila indiana sob o comando da professora Carmem de Carvalho para encararmos macarrão com picadinho ou Nescau com biscoito, lógico que algumas vezes o cardápio variava para melhor ou para pior. Mas, as terças havia uma atividade extra; logo pela manhã, bem cedinho, a professora distribuía copinhos de plástico, destes de servir cafezinho, com nosso nome escrito ao fundo. Após o uso, os copinhos retornavam para o armário encaixados uns sobre os outros na embalagem. Qual a finalidade? Fazíamos higiene bucal com flúor. Lembro que a molecada precisava ficar com o líquido na boca durante um minuto, marcados de relógio pela professora. Após a sessão de bochechos, despejávamos o líquido numa pia, um aluno de cada vez; coitado do último aluno. Para meu desespero, alguns moleques, na brincadeira, por distração acabavam engolindo o líquido, eu morria de medo de engolir aquele troço. O mais interessante é que não havia gosto algum, nem cheiro, nem cor, parecia água. Contudo, a professora Carmem garantia que protegeria nossos dentes e que não deveríamos ingerir, apenas bochechar. Bom, se havia flúor, deveria estar tão diluído que seus benefícios ficaram em nível psicológico. De qualquer forma, a intenção era louvável. Esse breve relato serve apenas como reflexão do cenário econômico dificil que passava o país. Entretanto, apesar das dificuldades, os professores eram tratados com dignidade e possuiam o brilho nos olhos, cuja maior recompensa era o respeito e a admiração de seus alunos.

Outros Carnavais


Nunca fui um folião convicto, daqueles que seguem trio-elétricos e blocos carnavalescos pelas ruas. Prefiro assistir o movimento pelos noticiários da TV ou no máximo, levo a namorada até o bairro da cidade velha, e a certa distância e sem muito remelexo, apreciamos a animada bagunça dos brincantes. Talvez por isso o carnaval de 1999 tenha sido marcante. Estava na companhia dos meus amigos do curso de Biologia: Tuca, Marcelo Pinheiro, Rosyvaldo, Ronildon, Bruno, Jackson, Luís e Marcos Pedro. Fazíamos parte do chamado Clã Canalha, que apesar desta denominação pouco atrativa, não guardava, seguramente, qualquer relação com nosso caráter, nossa cordialidade e educação. Neste ano, pedalando em nossas "super-bikers", conhecemos as cidades de Soure, Salvaterra, Joanes e Cachoeira do Arari, incluindo o museu do Marajó e o ilustre Pe. Giovane Gallo. Algumas vezes nos hospedamos na casa de garotas marajoaras conhecidas ali mesmo na ocasião, noutras, nos abrigamos na barraca da santa, visitamos ruínas antigas, fizemos trilhas ecológicas, acampamos em praias, entre outras loucuras. Incontáveis foram as quedas em atoleiros e piçarras, banhos de igarapé e “surtos psicóticos”, cujos detalhes não caberiam nestas linhas. Interessante como uma minguada bolsa de iniciação científica fornecida pelo CNPq, permitia com que aqueles insanos realizassem tais epopeias. Não havia muito planejamento, nem dinheiro, nem tempo; apenas coragem e disposição para pedalar quilômetros, prontos a enfrentar quaisquer imprevistos, e não foram poucos. Era uma época sem internet, sem celular, sem notebooks, (pelo menos para nós), mas de alguma forma sobrenatural, conseguíamos organizar a agenda e sair pedalando por ai. Atualmente a maioria dos integrantes do Clã encontram-se gordos, carecas, com filhos, mulher, com responsabilidade profissional e o pior, sem bike. De fato a vida nos impôs outros carnavais.

Lembranças de uma infância

Um encontro casual possibilitou rememorar detalhes de uma época velada pelo tempo. Durante a releitura daqueles anos de 1983 e 1984, minha amiga Vania Roberta, atualmente senhora casada, mãe e empresária, gentilmente, cedeu-me esta foto, onde vemos uma menininha de dez anos. Esta florzinha fez parte de minha história escolar, compartilhando lições da nossa querida professora Carmem de Carvalho dur
ante a quarta série do ensino fundamental na Escola Estadual de Primeiro Grau Nossa Senhora das Graças.

Crianças são sempre crianças, mas naturalmente, algumas experiências típicas da infância podem ensaiar sentimentos adultos. Senhores pais e mães de crianças na faixa entre nove e dez anos de idade, não se enganem, não subestimem a capacidade que estes pequeninos possuem de sonha um grande amor. Infelizmente os anos passam e esquecemos quão prematuro surgem certos sentimentos, cuja magia das primeiras experiências encontra-se no platonismo das relações, na ingenuidade do desejo, na sutileza dos momentos e na efemeridade das lembranças. Sou grato a esta ilustre amiga que um dia fez bater mais forte o coração de um reles moleque de dez anos de idade. Nunca houve um único beijo, mas dali em diante foi quando tudo começou.

sábado, 29 de setembro de 2012

Por que doutor para os médicos?


O hábito social de tratar os médicos de doutro  surgiu em 11 de agosto de 1827 a partir de um decreto assinado por D. Pedro I, ao instituir os primeiros Cursos de Ciências Jurídicas e Sociais. Nessa Lei, consta no artigo 9 o seguinte:

Art. 9.º – Os que frequentarem os cinco anos de qualquer dos Cursos, com aprovação, conseguirão o grau de Bacharéis formados. Haverá também o grau de Doutor, que será conferido àqueles que se habilitarem com os requisitos que se especificarem nos Estatutos, que devem formar-se, e só os que o obtiverem poderão ser escolhidos para Lentes (Lei de 11 de Agosto de 1827)

Dessa forma, o bacharel formado aquela época, em qualquer dos cursos, incluindo Medicina, seriam tratados por doutor, direito assegurado por lei. Em 1889 com a Proclamação da República e o fim do Império, as leis começaram a mudar e essa exigência caiu por terra. Após dois séculos de uso o termo consagrou-se na sociedade, adquirindo um significado distinto do outro termo “doutor”, que designa aquele que cursou pós-graduação strictu senso em nível de doutorado e portanto possui o título acadêmico de doutor..

Sendo assim, trata-se de termos homônimos e não sinônimos, um  passou a ser usado apenas um pronome de tratamento, ou outro, como título acadêmico. Para finalizar a discussão, o Código de Ética Médica, principal guia de conduta e princípios da profissão, não menciona que os médicos devam exigir da sociedade este “benefício”, consequentemente, nenhum médico em sã consciência irá obrigá-lo a tratá-lo como doutor, nem mesmo aqueles que possuem o título acadêmico. Aliás, esta necessidade de auto-afirmação da importância do papel social enquanto profissional, não pertence a classe médica. (Adaptação do texto de  Emerson Wolaniuk, In:  http://www.academiamedica.com.br/por-que-as-pessoas-chamam-os-medicos-de-doutor/)

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Não basta apenas clicar, é preciso envolver-se.

Neste cíclico processo de mudança a chuva lava, leva e escoa o velho hábito e anuncia a chegada de novos olhares.
O ato de escrever com a luz aos poucos vem adquirindo o necessário componente do rigor científico. Obviamente que desde o seu surgimento a fotografia sempre teve muita Ciência por trás de suas múltiplas manifestações. Porém, este conhecimento era escasso e fragmentado, uma consequência direta de sua irmã mais velha: a arte.

Por certo o campo artístico e cultural é rebelde por natureza, pois precisa ser capaz de impedir qualquer regra que limite ou oprima a criatividade e a livre expressão do espirito humano.
Consequentemente, muitos fotógrafos nasceram a partir da tentativa e do erro, cujo aprendizado foi conduzindo pela própria experiência, muitas vezes criada de forma assistemática e predominantemente artesanal.

Em pleno século XXI com a invasão da alta tecnologia dos sistemas digitais, democratizando o registro cotidiano das pessoas comuns a partir da simplificação da técnica fotográfica, frequentemente, ainda nos deparamos com mestres eminentemente artesãos, e não estamos falando de sexagenários, há muitos jovens neste meio.

Vivemos tempos em que o método científico no ensino-aprendizado da fotografia passou a ser considerado e percebido com mais intensidade, seja pela facilidade no acesso as publicações de livros e revistas especializadas sobre o assunto, que crescem exponencialmente, seja no planejamento e execução de cursos e oficinas por parte de instrutores qualificados, possuidores de competências e habilidades mínimas necessárias a boa formação de seus pupilos.

De fato somos uma geração privilegiada de aprendizes, testemunhamos um processo histórico de transição e de mudança de pensamento na transmissão do conhecimento em fotografia. Fugir do lugar comum e conquistar  uma imagem verdadeiramente criativa e cativante tem se tornado um desafio cada vez mais difícil aos meros curiosos. Hoje em dia por trás do visor da câmera fotográfica não basta apenas o talento, a criatividade e a arte, é preciso que haja Ciência.




domingo, 2 de setembro de 2012

De volta para o futuro

Uma aventura que marcou toda uma geração. O enredo era cativante, o cientista Dr. Emmett Brown cria a máquina do tempo em forma de carro e envolve o jovem Marty McFly em grandes apuros no passado de 1955. A trilha sonora é outro show sem igual. Lembro que o filme estreou em Belém em fevereiro de 1986 no cine Palácio e lógico que eu estava na estreia. Por muitos dias este filme formou fila gigantesca, que contornava o quarteirão do cinema. Alguns anos depois, o episódio 2 viria a retratar o futuro de 2015, uma época onde os carros voavam, os skats não tinham rodas e deslizavam no ar e os tênis possuíam mecanismos infláveis de acomodação para os pés. Contudo, curiosamente, não havia celulares nas mãos das pessoas.

Aqueles foram tempos aureos dos cinemas de rua, os quais constituíam uma das poucas, senão a única grande diversão da juventude dos anos 80. Algumas vezes formávamos caravanas para assistir aos filmes em cartaz, foi assim com Os Goones, A história sem fim, Karate Kid, Indiana Jones, entre outros. Depois chegou a febre dos videocassetes e visitar as locadoras de filmes passou a ser rotina.

O privilégio de assistir comendo pipoca na tigela com Baré tuti-frute, esparramados no sofá da sala, traz outras boas lembranças, sobretudo, a feroz disputa que travávamos para ver quem ficaria no melhor lugar, na melhor cadeira com o melhor ângulo de visão, claro que o dono da casa tinha sua poltrona garantida. Se alguém ia ao banheiro perdia o lugar, mas não o filme, pois "o pause" agora estava garantido. O chato mesmo era ter que devolver os títulos no dia seguinte na locadora Vídeo Clube do Pará, uma das primeiras a prestar esse serviço em Belém. Ah Dr. Brown... quisera eu passear pelas dobras do espaço-tempo num Delorean.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Sistemas solares humanos

Famílias são como sistemas solares, algumas grandes, outras pequenas. Neste último fim de semana visitei uma amiga na cidade de Abaitetuba e sempre que chego sou recebido com muito entusiasmo e carinho por sua família, uma grande família tanto pelo número de pessoas quanto pela qualidade destas. Seu Miguel é o patriarca, um senhor de setenta e poucos anos, de hábito tranquilo e bastante prosador que, tal qual o sol agregando os planetas, também mantém por perto suas muitas filhas, seus vários genros, netos e bisnetos. É bonito ver a casa cheia de gente num entra e sai permanente, com risadas na cozinha, brincadeiras na sala, nos quartos e corredores, a casa é grande, mas maior ainda é a alegria daquela família reunida. Sim, seu Miguel é de fato uma estrela.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Julho em 2012

O verão na capital paraense teve início com uma semana traiçoeira que trouxe de volta chuvas torrenciais, alagamentos e lentidão no trânsito. Minha agradável caminhada entre mangas verdes e coxas maduras sobre o calçadão do Museu Goeldi foi temporariamente suspensa, até que o sol voltasse a dar o ar de sua graça entre as nuvens e, em seguida pudesse, educadamente, ceder lugar a lua e as estrelas. Mas para os artistas, noites chuvosas são perfeitas, pois alimentam o espírito sedento de inspiração. Seja como for, transitar pelas ruas de Belém durante o mês de julho e, sobretudo, nos finais de semana constitui uma experiência incrivelmente nostálgica. É um embarque na máquina do tempo rumo à épocas pretéritas cuja histeria das buzinas e motores ainda não prevalecia sobre o canto dos pássaros e o chichiar das cigarras. Essa melodia natural que nestes finais de tarde penetram nossos ouvidos, aquecem o coração e transbordam a mente de gostosas lembranças de outrora. É a magia do verão na Santa Maria de Belém do Grão Pará.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

O caminho da educação formal

Esse post originou-se de um outro semelhante, encontrado no blog da Tatiane Souza. Mas por algum motivo, a postagem dela teve a imagem bloqueada, fenômeno ocorrido por toda a internet. Quem sabe isso tenha ocorrido devido a direitos autorais. Seja como for, apresso-me a referenciar os devidos créditos na tentativa de evitar futuros problemas legais.
Esta imagem foi adaptada por mim e representa o Diagrama de Matt Might, professor de Ciências da Computação na Universidade de Utah (EUA). Ele completou seu calombinho na Georgia Tech em 2007 e agora ajuda seus alunos a completarem os seus.
Bom, então continuando, o que é o doutorado? Imagine que o círculo corresponda a totalidade do conhecimento humano. Quando você termina o ensino fundamental, aprende um pouquinho (ponto azul). Ao terminar o ensino médio, avança um pouco mais (círculo verde). Ao concluir a graduação, avança mais (círculo lilás). Com o curso de especialização, aprende mais (protuberância lilás). Com o curso de mestrado você aprofunda o conhecimento sobre uma área específica (vermelho). Com o curso de doutorado ( ou PhD), seu aprendizado finalmente encosta no limite do conhecimento humano (prosseguimento em vermelho). Insistindo mais uns anos no estágio de pós-doutorado você extrapola o círculo do conhecimento humano ( corresponde ao calombinho saindo do círculo). Mas é claro, se você possui outros interesses na vida, não esqueça de dimensionar suas prioridades e continue sempre ultrapassando os seus próoprios limites.

Conclusão de mais uma etapa

E então chega uma época em que os convites ficam prontos e são entregues a banca. Época boa em que as versões do trabalho já não voltam até nós tão vermelhas, visto que as correções se restringe a detalhes e formalizações. Ainda assim, as noites são longas e os dias são curtos e o sono parece desistir de nós. Quando chega aquele momento em que deitamos e fechamos os olhos, surgem nossos amigos, os autores das referências bibliográficas. É um tal de Katz, Chaves, Pellegrino pra lá; Bichara, Soares, Rodrigues pra cá, Bina, Prata, Tibiriça pra acolá, e tome et al. Quando finalmente conseguimos dormir, lá estamos sendo sabatinado pelos avaliadores no “dia D”. Como diz a canção: “ai, ai, ai-ai, tá chegando a hora.."

Camilo Salgado, 10 anos

Diz-se que de médico e louco todo mundo tem um pouco, mas de médico e santo só alguns. Dentre as personalidade paraenses consideradas milagrosas, destacam-se: Crasso Barbosa (1886-1819), João Carlos Maciel (1941-1987) e Camilo Salgado. O dr. Camilo Henriques Salgado Jr., nasceu em Belém na casa n.110 da antiga rua Cruz das Almas, atualmente Arcipreste Manoel Teodoro, no dia 22 de maio de 1874 e falecido em 2 de março de 1938. Seu pai, Camilo Henriques Salgado era lente de Pedagogia da antiga Escola Normal e foi quem emprestou o nome a Escola que, no dia 28 de junho de 2002 (há exatos 10 anos) acolheu-me como professor de Biologia fazendo parte de minha história profissional desde então. Várias pessoas devotas ao médico utilizam uma oração para invocar seus poderes curativos, inclusive publicando-a em jornais como sinal de agradecimento. A prece está assim escrita:
“Deus misericordioso, te agradecemos a felicidade que nos destes, dando o poder ao Dr. Camilo Salgado de ajudarnos a receber as curas dos males que nos afligem, e a caridade e o amor ao próximo, constitui uma prova para nossa fé. Cremos em ti, e na tua bondade infinita, Dr. Camilo Salgado não podemos ir onde te encontras mas tu podes vir até nós. Ouve nossas preces, atende nossos pedidos. Ampara nas provas da vida e vela todos quantos te são caros. Protege-nos como puderes, suavizando os pesares, fazendo-nos perceber pelo pensamento que és mais ditoso agora e dando consoladora certeza, de que um dia estaremos todos reunidos num mundo melhor e que seu progresso espiritual seja cada vez maior. (Associa 1 Pai Nosso e 5 Ave Maria).”
Homenageando essa grande personalidade paraense que conquistou a simpatia de intelectuais e populares, Lucia Simões escreveu:

"Manhã de chuva! O céu triste e cinzento
Pende a chorar sobre a cidade triste!...
Com profundo e sincero sentimento,
Te vemos passar, ó mestre que partiste.
A cidade enlutada, comovida,
Acompanha-te a última morada
Evocando com mágoa enternecida,
Tua figura santa e venerada.

Apóstolo do bem e da caridade,
Tua alma excelsa e cheia de bondade
Voou ao céu a cumprir outras missões!...
Mas não morreste, afinal, mestre querido
Pois continuas para nós bem vivo
"Em nossas almas e em nossos corações."

Ciência e diversão

Este jogo foi um ícone nos anos 80 que nos divertiu muito. Dentre as várias fórmulas químicas, havia uma solução de coloração rosa muito popular, produzida a partir da combinação de quatro substâncias (água, fenolftaleína, hidróxido de amônia e álcool etílico) chamada de “sangue do diabo”.
A graça da brincadeira era borrifar a solução sobre a roupa (de preferência branca) de uma pessoa alheia ao experimento e, fazê-la pensar que o tecido ficaria manchado para sempre. Acontece que após alguns minutos, a mancha desaparecia como mágica. A explicação era simples, a fenolftaleína fica rosa na presença de base e o hidróxido de amônio (NH4OH) é uma base volátil que se decompõe facilmente em NH3 e H2O (amônia e água). Quando o líquido era jogado sobre o tecido, a amônia evaporava e o meio tornava-se neutro, fazendo a fenolftaleína voltar a ficar incolor.
Certa vez, Hans, Fred e Cezar me desafiaram a jogar o tal “sangue do diabo” sobre a camisa do Toninho, colega mais velho, de pavio curtíssimo e que até então desconhecia aquela "mágica". Não deu outra,  por pouco, mas por pouco mesmo, o Toninho não produziu uma reação de coloração roxa no meu olho esquerdo. Nunca mais esqueci a reação NH4OH NH3↑+ H2O que um dia salvou a minha vida.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Língua, essa danada.




Vitórias conquistadas são, evidentemente, boas de serem lembradas, divulgadas e compartilhadas, seja como forma pedagógica de exemplificar a superação dos obstáculos em busca dos objetivos pessoais, seja como expressão de liberdade, felicidade ou mera liberalidade. Contudo, todos nós, em algum momento, precisamos olhar para o espelho e lembrar quem somos realmente. Isto definitivamente não é um exercício simples e frequentemente praticado, pois requer uma qualidade escassa, a blindagem emocional, já que é muito dificil encararmos os próprios fracassos. Neste sentido, eventualmente, costumo falar dos meus insucessos, seja durante conversa informal com meus alunos, numa rodada com amigos ou mesmo compartilhando publicamente na internet (blog, etc.). Agindo assim, acredito que isso me ajude a manter os pés nos chão. Seja como for, a opção em viver discretamente ou escrachadamente traz riscos de ataques e maledicências ou elogios e admirações, consequências diretas da natureza humana. Sendo assim, o melhor a fazer é manter-se sereno e alerta. Sereno para não adoecer gratuitamente, alerta para representar judicialmente contra o infeliz difamador. Para aqueles que se identificam com a mensagem, fica a sabedoria do filósofo Platão, que já divagava sobre o assunto: “Calarei os maldizentes continuando a viver bem; eis o melhor uso que podemos fazer da maledicência”, e a pop star Madonna: “Sobre mim falem bem ou mal, mas falem”.

domingo, 10 de junho de 2012

Lições do Mestre


Continuando a série “passado com os amigos”, lembrei de uma aula de neuroanatomia do professor Dr. Eduardo Leitão no ICB. A turma estava reunida em círculo em torno das peças, como de práxis. Dizia o professor: “observem a fissura longitudinal separando os dois hemisférios cerebrais; também vemos aqui os sulcos lateral e central, paralelo aos giros pré-central e pós-central”. Em dado momento, uma colega interrompe a explanação, incidindo seu dedo indicador sobre a peça anatômica e indagando qual seria o nome daquele sulco cujo professor havia ignorado. O professor olhou para nós e disse: o nome deste sulco turma, chama-se brutalidade humana, em seguida, deu gostosa gargalhada. Levamos uns segundos até entender a piada. O sulco em questão não era uma marca natural do cérebro, era tão somente um sutil dano provocado pela serra elétrica no momento do corte da calota craniana, por parte dos preparadores das peças. Este era o professor Leitão, grande mestre.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Capturando luz

 


E então os sensores eletrônicos chegaram até nossas mãos substituindo os filmes de 35 mm como o fogo roubado dos deuses. Esse presente precioso permitiu com que nós, entusiastas mortais, trouxéssemos ao mundo novas concepções, destruindo e reconstruindo paradigmas, minando vaidades e ao mesmo tempo incomodando e alegrando muita gente. Neste contexto, pergunto-me qual seria meu objetivo? Em primeiro lugar busco meu prazer incondicional. Portanto, capturo luz para mim mesmo como uma terapia do sossego. Aquele lápso de tempo entre o enquadramento da imagem e o pressionar do obturador é sem dúvida uma experiência mística cujo os olhos de Deus pegamos emprestado. Neste exercício de reflexão e satisfação pessoal, definitivamente não há pretensões de lucro ou aspirações de destaque no meio artístico. Em segundo lugar vem o desejo de mostrar as pessoas queridas, amigos e familiares o quanto o mundo pode ser mais interessante do que supomos. Seja como for, fotografar requer concentração, inspiração, desejo, atenção aos detalhes finos, percepção das coisas simples a partir de um olhar filosófico do Universo o qual pertencemos. Fotografar é, sobretudo, uma brincadeira divertida e contagiante. Em fim, fotografar é poesia, é ter algo a dizer e dizê-lo, com humildade e resiliência. Um brinde aos sensores eletrônicos.



sábado, 2 de junho de 2012

Seu Tuna e as coisas de moleque

Ele era chamado de Tuna, um senhor beirando os oitenta anos, cuja marcha se caracterizava por um acentuado encurvamento do corpo para diante, mantendo a cabeça suspensa a frente, com os braços para trás em equilíbrio. Passos lentos e vacilantes, aquele senhor de origem interiorana insistia em realizar um breve percurso da sua residência até a mercearia da esquina. Diziam que ele era pescador, mas nem seu sobrinho Getulio sabia ao certo. Veio morar com sua irmã, dona Dica.
Toda tarde sentava-se num banquinho simples de madeira em frente a sua casa. O velho era lúcido, apesar das marcas do tempo. Seu Tuna não perdia um lance. Com um olhar atento, soltava uma rouca e breve gargalhada ao avistar um caminhar feminino.
Mas isso era quando estava sentado, porque quando estava perambulando e em seu caminho viesse uma mulher em sua direção, corrigia sua postura corcunda, posicionando seus braços para diante a fim de permanecer em posição ereta até onde conseguia alcançar. Em seguida ouvia-se a típica gargalhada. Esse era seu Tuna, o velho Tuna.
Certa vez seu sobrinho com muita dificuldade tentava soltar sua mão direita, firmemente segura no gradil do muro da casa. Seu Tuna estava paralisado a meio caminho entre ficar em pé e sentado em seu banquinho.
Aconteceu que ele perdera o equilíbrio ao tentar sentar-se e comedo de cair, agarrou-se por reflexo e ali permaneceu gritando por socorro: “Ajuda Dica, puta merda... Dica, Dica!”.
A cena não tem nada de engraçado, é triste, mas ainda assim virou piada lembrada até hoje. Não poderia ser diferente, na época éramos jovens e tolos para conter a risada diante de nosso amigo ajudando seu tio que em alto e bom tom esbaforia impropérios aos quatro ventos. Hoje quando reencontro aqueles velhos amigos, nosso cumprimento inicial é invariavelmente: “fale Dicaaaaa!”

Quadrilhas juninas



Noite timidamente estrelada, gradativamente aumentava a animada concentração. Nossa cerimonialista Eliana, sempre gentil e cativante, coordenava a formação inicial de mais um ensaio. Inevitavelmente, alguns púberes, motivados por seus hormônios, trocavam olhares apaixonados sem pudores, outros simplesmente brincavam, gargalhavam ou corriam fortuitamente. Mas todos estávamos ali com o desejo sincero de dançar quadrilha. Quando a música começava e os primeiros passos se faziam presente, uma atmosfera contagiante tomava conta de nossas respirações e transpirações, permitindo com que aquela típica dança, agisse como uma poderosa força de atração coletiva, mantendo-nos coesos e indiferentes ao avançar das horas. Era a magia das festas juninas na Rua dos Mundurucus nos idos de 1985, com direito a fogueira do seu João (pai do Junior), mingau da Dona Sabá, simpatia de Dona Margarida, dona Maria Luíza, dona Celeste, Dona Marília, e tantas outras. Estou certo de que aqueles que como eu, experimentaram essa manifestação social, não deixam de sentir, mesmo que discretamente, um embargo na garganta e um "cisco no olho" ao ouvir “Fim de festa” de Luiz Gonzaga. Então: Balancê!

quinta-feira, 10 de maio de 2012

A Belém que no Pará parou.

09 de maio de 2012 não teve água, faltou energia e os ônibus desapareceram. Esquinas congestionadas sob um trânsito caótico testava a paciência dos transeuntes. Não raro pessoas transbordavam pelas janelas dos transportes coletivos na exata medida da disposição dos mototaxistas que entre as faixas se lançavam feito flechas. A Belém que parou fingiu-se de morta. Por volta das 16h30minh duas menininhas mal trajadas, uma pretinha, outra branquinha, bonitinhas e famintas aproximaram-se, estenderam as mãozinhas e, com os olhinhos tristes, quase lacrimejantes, perguntaram: o senhor quer bombons? Rapidamente ambas sorriram agarrando aquilo que pretendiam e, com agilidade, desapareceram entre os veículos. Eram apenas menininhas, florezinhas de um jardim esquecido, eram a Belém agonizante no compasso do descaso.

domingo, 6 de maio de 2012

Ah Humanos!






Sites de relacionamentos sempre possuem o que podemos classificar de "lado obscuro da força", aquele que o torna um muro das lamentações, um manual de receitas de sucesso e felicidade, um compêndio de intrigas, fofocas, piadas e deboches. Também tem espaço para lições de moral, promoção pessoal, exibicionismos, vernissagens e teses da verdade. Vez  por outra vejo no facebook a manifestação dos críticos de tendências, cientistas, historiadores, humoristas, comentadores esportivos, mocinhas virgens, turistas e alienígenas de outras galáxias.

Temos a presença marcante dos bonzinhos, dos eticamente corretos, dos apaixonados, dos nostálgicos, dos escritores, dos salvadores da pátria,  dos queridinhos de Deus e também não poderia faltar o time que compõem a palmatória do mundo.

Como se não bastasse, têm ainda um grupo com necessidades especiais de atenção, que de posse de um celular, alimentam a curiosidade dos mais incautos com seus relatórios curtos sobre seu cotidiana do tipo: fui ali; fui aculá; almocei isto; jantei aquilo, saí com fulano, bebi com sicrano etc. etc.

Da mesma forma, compondo o equilíbrio destes sites, temos o “lado brilhante da força”, aquele que possibilita reencontrarmos antigas amizades, estabelecer laços de carinho, estreitar contatos familiares, divulgar informações de caráter utilitário com benefícios sociais diversos, etc. Nós todos transitamos na dimensão dicotômica destas maravilhosas ferramentas de entretenimento, portanto, fazemos parte de tudo isso; lógico, é típico do ser humano, porque seria diferente? Foi assim, é assim e sempre será, disse “o profeta”.