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domingo, 1 de abril de 2018

Proéxis: Acumular anos a vida ou vida aos anos ?

O nítido aumento da expectativa de vida do brasileiro, segundo o IBGE 74,9 anos, me convida a pensar mais detidamente no processo de envelhecimento, até por conta de minha rotina profissional no trato com o público idoso que recebo no consultório. Não há fórmula para viver bem, entretanto, há algumas metas que nos levam a seguir em frente e que nos possibilita experienciar o avançar da idade de forma mais plena e menos traumática e excludente. Nesta longa relação, cito o que particularmente acho mais importante: 1- Planejamento financeiro, 2- Planejamento familiar e Planejamento Espiritual. Isso requer maior cuidado com o corpo e com a mente, refletindo na adesão a uma rotina de exercícios, busca por uma alimentação saudável e atividades que estimulem a sociabilização, diversão e novos aprendizados adicionando permanentemente experiencias positivas a essa fase da vida. O habito da boa leitura, viagens e o envolvimento com ações filantrópicas são atividades profiláticas a monotonia, a ociosidade,ao adoecimento e a estagnação espiritual. Como diz Mario Sergio Cortella, um Idoso é uma pessoa com bastante idade, velho é uma pessoa que acha que já sabe, que já conhece e que não precisa mais aprender, podendo ter 20, 40 ou 70 anos de idade.
Dia desses eu, minha esposa e minha sogra dona Meire passeávamos pelas ruas do comercio de Belém, numa manhã ensolarada de julho, pouco antes da chegada da Thaís. Na altura da trav. Frutuoso Guimarães, convidei-as a conhecer um de nossos ícones do período colonial, a Igreja de Nossa Senhora das Mercês, marco do catolicismo em Belém.
Sentamos logo na primeira fileira de cadeiras bem próximo a entrada do templo. O ambiente silencioso, combinado a fraca luminosidade, quase exclusiva do sol que vazava suavemente em tons multicoloridos através dos vitrais, produzia um clima de mistério ante as seculares tradições católicas.
Quase não havia ninguém, alguns fiéis se prostravam de joelhos em oração ou em pé diante das imagens exibidas nas paredes laterais da Igreja. Chamava a atenção uma estátua de Jesus com cabelos segurando uma enorme cruz.
Por algum tempo permanecemos calados e apenas nossos olhos percorriam os detalhes arquitetônicos de Landi em estilo tipicamente Barroco. Absorvido por aquele ambiente de quase três séculos, lembrei-me de uma lenda bastante conhecida entre os belenenses: A menina da vassoura.
A lenda fala de uma menina que ao tentar bater na mãe com uma vassoura, em plena sexta feira da paixão, virou estátua de madeira. Conta-se ainda que a estátua ficou em exposição por muitos anos na Igreja de Santo Alexandre, hoje, Museu de Arte Sacra.
Contei a elas sobre a referida lenda e refletimos sobre seu significado pedagógico no imaginário infantil. Daí, aproveitamos aquele clima místico, tão propício a meditação, e aprofundamos a reflexão sobre o valor das lendas, fábulas, historinhas e contos de fadas na criação dos filhos.
Dona Meire posicionou-se contrária a ideia de utilizar esse recurso, como elemento pedagógico, questionando qual contribuição real, a lenda do papai Noel, por exemplo, traria ao bom e adequado processo de preparação das crianças para a vida adulta?
Bem, nem preciso dizer que, entre um sussurro e outro, nossas vozes começaram a escapar, ecoando baixinho no ambiente, então, educadamente, nos retiramos da Igreja e por assim, finalizamos o acalorado debate.
Notadamente minha infância jamais se dissociou das historias e fábulas. Mas, diferentemente de meus pais, os meus queridos sogros dona Meire e seu João - segundo eles próprios - não utilizaram deste recurso, não houve fábulas, priorizaram os relatos bíblicos como ensinamento na formação do caráter e da moral cristã. Com muita dedicação e amor, transformaram três belas crianças em três adultos maravilhosos; inclusive, por conta disso, não resisti e casei com uma de suas filhas.
Bem, a recente chegada de minha primogênita trouxe de volta a lembrança daquele passeio agradabilíssimo e, principalmente, dos sussurros na Igreja das Mercês.
Vale apena contar histórias aos pequeninos ?
Quem responde é o grande psicólogo infantil Bruno Bettelheim no livro “A Psicanálise dos contos de Fadas”(2002), disponível na internet em arquivo formato pdf. Uma boa litura para este fim de férias escolares.
Coisas de escola

Se tem uma coisa que gosto é de assistir a um bom filme, Ah um filme, que coisa boa. Acabei de assistir um desses que nos faz pensar na vida e no que estamos desenvolvendo no contexto de nossa rotina profissional. O filme para quem tiver curiosidade, chama-se "A língua das mariposas", de José Luis Cuerda (Espanha, 1999).
Este filme me fez lembrar de minha época do ensino fundamental em 1986. Eu encarava 5ª série no Centro Educacional "12 de Outubro", meu primeiro ano em uma Escola particular e obviamente que a rotina era muito mais desafiadora (mais cobranças em casa e na escola, mais tarefas tarefas, mais disciplinas para estudar, etc.), enfim, era um novo mundo assustador.
Tínhamos um professor de matemática chamado Roma que era "o cara", por se destacar dentre os demais, a semelhança do professor Don Gregório do filme. Por outro lado, havia um outro professor de desenho geométrico (DG) que era o oposto, uma personalidade totalmente (....) entre outros adjetivos.
Pois bem, este professor de DG havia dado notas baixas a maioria dos alunos de forma sistemática ao longo do ano, deixando muitos de nós para a prova final, inclusive eu. Dizia ele em tom sarcástico: “Alunos, quem ficar de recuperação vai ficar reprovado, portanto estudem”, e de fato muitos colegas ficaram.
Por sorte me safei da reprovação com a ajuda do cara de matemática, que pacientemente e movido unicamente pelo desejo de ensinar, mostrou-nos um método alternativo para a construção da circunferência o qual eu aprendi. Entretanto, tal método era mais complexo que o método ensinado pelo "estocástico" professor de DG.
Pois bem, parti para o tudo ou nada na prova de DG e utilizei o tal método complexo. Dias depois, ao receber a prova de volta após as correções, estava escrito no canto superior direito a seguinte frase, seguida da nota (que ninguém havia tirado): "Bom método, parabéns!"
“A Língua das Mariposas” é um destes filmes que nos faz crer que a humanidade ainda tem chance e que vale a pena investir prioritariamente e a qualquer custo na educação.
A engrenagem da cidade e a barata casca 

Caminhando pelas ruas do centro comercial de Belém nesta manha nublada do primeiro dia útil de 2017, muitas lojas ainda abriam, trabalhadores informais montavam suas barracas, moradores de rua ainda dormiam nas calçadas e quase não havia transito de veículos, tudo acontecendo num ritmo lento, suave, sem gritos, sem pressa e olha que já passavam das nove horas. De fato hoje a capital do Pará acordara preguiçosa, instigando a nostalgia. Continuei andando e entre passos e pensamentos segui embalado por aquela musiquinha na cachola: “...a barata diz que tem sete saias de filó. É mentira da barata ela tem é uma só... ha, ha, ha, ho, ho, ho, ela tem é uma só .. a barata diz que tem um anel de formatura.. é mentira da barata ela tem é casca dura... há, há, há, ho, ho, ho, ela tem é casca dura”
Belém, 2004.
Deveria ser verão na capital paraense, o mormaço a pino anunciava que dali a pouco ocorreria a saída dos alunos daquela Escola situada na rua Castelo Branco. Assim que eu a avistei, segui apressado em sua direção alcançando-a já próximo a Gentil, dei um olá e segurei sua mão. Quando aquele par de turmalina pousou sobre mim, todas as minhas frases planejadas desapareceram, restando apenas silêncio e sorrisos.
Curiosamente existe uma outra versão dessa história. Segundo relatos de um amigo - diga-se de passagem, não testemunha ocular - eu saí correndo feito doido, atravessando a rua em direção a ela e, ao intercepta-la, quase a matei de susto. Paramos e aproveitamos a sombra de uma árvore onde um passarinho sacana tingiu nossas cabeças com excrementos, fato que contribuiu decisivamente para quebrar o gelo e dar origem ao meu papo de vendedor de carro usado.
E mais outra sobre fotografia

"Ruas? Para onde vamos não precisamos de ruas". Frase do dr Emmett Brown no fim do célebre filme De volta para o futuro.
Prever o futuro é difícil até para os roteiristas de Hollywood que dirá a este reles mortal. Não sei, mas desconfio que vai ser assim...
Semelhante ao que a mãe natureza faz com a vida na Terra, nossa civilização faz com a sociedade, alterando radicalmente posturas, condutas, culturas, costumes, hábitos, atividades, etc. Nesta ciranda de modificações, muitas profissões entram em colápso, sofrem extinção e desaparecem virando pó na história ou se modificam (mutações) e se adaptam as novas demandas, seria o caso, citando um exemplo bem típico, dos motoristas de táxi que tem enfrentando os mototaxis e o Uber.
Pois bem....
Antigamente (bem antigamente), na época dos nossos tátaras, se colocássemos uma câmera fotográfica nas mãos de uma pessoa qualquer, provavelmente ela nem saberia do que se tratasse ou no mínimo, não saberia achar o botão do clic, não saberia onde deveria olhar, o que calibrar, enfim, estaria por fora sobre o manuseio daquele objeto estranho, até porque as câmeras dessa época eram porrudas, pesadas, objetos bem diferentes dos atuais.
Há uns vintes anos, se você colocasse uma câmera fotográficas nas mãos de uma pessoa qualquer, provavelmente, ela saberia encontrar o botão do clic, saberia onde olhar e o que fazer. Mas, dificilmente, obteria um resultado interessante, uma composição bacana, etc. a menos, é claro, que se tratasse de um profissional ou alguém bem acostumado com o negócio.
Daqui a uns vinte anos, se você colocar uma câmera fotográfica nas mãos de uma pessoa qualquer (não estou falando de celular), provavelmente, essa pessoa fará um clic bem interessante, tendo o cuidados no foco, na composição, no enquadramento, entre outros parâmetros, e não serå por conta da sofisticação do equipamento (câmera) mas pela evolução instintiva do olhar do operador.
Isso realmente poderá ocorrer porque o fotógrafo se alimenta de imagem e essa dieta está cada vez mais democrática e acessível a todos. A evolução do usuário comum já está fazendo pressão nos profissionais, que precisam se adaptar as exigências da "mãe natureza", sob pena de serem engolidos pelos clics da pirralhada cujo pipo (chupeta) foi um celular.
Ser pai
Cara, tudo bem que sou um chorão inveterado, lagrimo até com comédias românticas tolas, mas, vou te dizer uma coisa: eita menininha danada pra arrancar lagrimas de mim. A primeira vez foi com o teste de gravidez positivo, a segunda no momento do parto e agora ela vem com essa de me olhar e dizer "pa-plaie" . 
Caramba, sonhei com essa "vozinha", que gostosa, que delicia, ontem foi um daqueles dias abençoados. Não dá para conter a emoção que brota não sei de onde, mas termina com lacrimejamentos. Que coisa louca, hora somos machões, hora nos desmanchamos feito cera ao fogo, seja por pura felicidade ou num momento de dor.

Também aproveito para dizer que hoje faleceu minha tia-avó, dona Guiomar, 101 anos de idade. Ao olhar em seu rosto, vi a expressão de tranquilidade, parecia que estava só descansando. Aquele semblante sereno é raro de se ver, realmente, pertence apenas aqueles que cumpriram plenamente com sua missão existencial, sem procrastinações, sem contrair novas dívidas. Bá, vá em paz minha querida, que seus amparadores lhe recebam com todo carinho e amor que você merece.

Ofereço uma oração já com os olhos marejados e lembrando de sua casa em Icoaraci, com aquele quintalzão repleto de plantas medicinais e um pomar cuidadosamente ancinhado e podado. Lembro das historias que o papai contava para nós quando criança, ao visitá-la. Uma delas dizia existir enterrado no fundo do quintal um baú de navio pirata cheio de moedas antigas, em outras, dizia que aquele quintal era o que restou do paraíso de Adão e Eva.

Papai tinha razão, aquela época era como um paraíso e a sua história de vida, um tesouro enterrado em nossa memória e guardado em nosso coração. Babá, que Deus lhe abençoe e lhe guarde.