Nas águas às vezes rasas, noutras profundas o barco ruma para o horizonte da vida. Pequeno no tamanho mas grande no sonho. Um barco rústico feito com a disciplina e o empenho dos que nele navegam. Há momentos em que é movido por sangue, suor e lágrima. Noutros, por alegrias, amores, contentamentos. Na bússola, a esperança, a bordo sonhos, desejos, poesias.
A tripulação procura nas estrelas uma direção a seguir, talvez esteja no céu, quem sabe no mar, talvez não esteja em nenhum lugar, mas o importante é procurar. Ventos fortes sopram mas a brisa vem e tudo fica bem. Quando tudo parece impossível, descobrimos sempre uma saída, uma solução, o importante é procurar. Mas há algo diferente... alguém começa a cantar, na melodia o sinal, a harmonia, a dose certa, algo de sólido se enraíza: eis uma amizade. E o barco? Continua a navegar.
Atropelando os fantasmas do passado, o barco ruma para o norte, vai para o sul, sempre guiado pelos ventos do futuro conduzindo-o a uma terra que fica longe daqui, logo ali, perto d’aculá, em todo lugar. Nesta viagem, bancos de areia hão de nos desafiar, mas o luar, ah! doce luar, se falasse o que diria? Quem sabe poder e utopia, um clima de magia, embaraços, fragilidades. Podemos tudo é verdade, então vamos empurrar. Avante! não esperem, antes uma pausa para comemorar.
Por estas águas muitos barcos já passaram, alguns rápido que não viram o segredo do lugar, outros por demais vagarosos fizeram destas águas uma viagem sem cores, talvez por não perceberem que ainda há de se descobrir à beleza do porvir. Mas o barco segue. Atrás ainda o porto, a frente, um céu de brigadeiro, e dentro, sim a chama ainda arde fortemente no espírito, na determinação e no talento de seus navegantes. Que não se apague jamais!
Todos ao convés: terra a vista! Não,esperem... ainda é preciso navegar.
(Publicado em O Liberal em 28 de dezembro de 2002)
Texto inspirado no cotidino do curso de medicina da UFPA
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