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sábado, 2 de junho de 2012

Seu Tuna e as coisas de moleque

Ele era chamado de Tuna, um senhor beirando os oitenta anos, cuja marcha se caracterizava por um acentuado encurvamento do corpo para diante, mantendo a cabeça suspensa a frente, com os braços para trás em equilíbrio. Passos lentos e vacilantes, aquele senhor de origem interiorana insistia em realizar um breve percurso da sua residência até a mercearia da esquina. Diziam que ele era pescador, mas nem seu sobrinho Getulio sabia ao certo. Veio morar com sua irmã, dona Dica.
Toda tarde sentava-se num banquinho simples de madeira em frente a sua casa. O velho era lúcido, apesar das marcas do tempo. Seu Tuna não perdia um lance. Com um olhar atento, soltava uma rouca e breve gargalhada ao avistar um caminhar feminino.
Mas isso era quando estava sentado, porque quando estava perambulando e em seu caminho viesse uma mulher em sua direção, corrigia sua postura corcunda, posicionando seus braços para diante a fim de permanecer em posição ereta até onde conseguia alcançar. Em seguida ouvia-se a típica gargalhada. Esse era seu Tuna, o velho Tuna.
Certa vez seu sobrinho com muita dificuldade tentava soltar sua mão direita, firmemente segura no gradil do muro da casa. Seu Tuna estava paralisado a meio caminho entre ficar em pé e sentado em seu banquinho.
Aconteceu que ele perdera o equilíbrio ao tentar sentar-se e comedo de cair, agarrou-se por reflexo e ali permaneceu gritando por socorro: “Ajuda Dica, puta merda... Dica, Dica!”.
A cena não tem nada de engraçado, é triste, mas ainda assim virou piada lembrada até hoje. Não poderia ser diferente, na época éramos jovens e tolos para conter a risada diante de nosso amigo ajudando seu tio que em alto e bom tom esbaforia impropérios aos quatro ventos. Hoje quando reencontro aqueles velhos amigos, nosso cumprimento inicial é invariavelmente: “fale Dicaaaaa!”

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